terça-feira, 29 de julho de 2008

Às vezes me questiono porque não consigo dormir. Não que eu queria desesperadamente, mas não consigo. Não consigo e ponto. Aquela coisa de se sentir solitária quando olho pela janela e vejo luzes apagadas já passou. Mas existem coisas que nunca passam.

Certas aflições metidas à besta sempre voltam de madrugada e na madrugada ficam. Fantasmas idiotas sem perspectiva, eles sabem que eu não tenho medo e que se pudesse os convidaria para uma cerveja, se não estivesse tão empapuçada de beber é claro. Eles voltam para me lembrar daquelas coisas que não conseguimos esquecer. Mas isso lá são horas?

Daí ouço música, como, bebo uma coca, fumo um cigarro, volto, ouço música de novo, bebo mais coca, fumo outro cigarro e nada. Nada. Niente. Nichts.

Estão me lembrando.
Re-lembrando coisas esquisitas.
Ma-tando o que sobrou.
Asfixiando ex-cessos.


S.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Não que eu tenha desistido

Entretanto, quando já não sei nem o que escrever por aqui para que se entenda o que quero dizer quando grito o 'verbo' VERDADE, me vem minha situação presente. Estou sentado, em frente à uma máquina, numa cidade estranha, me retratando, me desculpando virtualmente, por não PODER ser livre e (verbalmente) verdadeiro.
Não posso, já que bebo da preguiça de uma cama macia todas as noites, e me dou ao luxo de sonhar confiante que um despertador vai me chamar à realidade. Já que não abro mão da expressão 'todo-o-dia', já que não tenho tanto medo da morte assim.
Sendo que Esta (a Morte) se esconde atrás do próximo segundo, e apareçe a cada instante, cada vez mais perto, cada vez mais colorida [no andar de baixo, na televisão, na cidade vizinha e no cheiro de um cão estirado no meio na rua] pra me gritar : VIVA AGORA.
Mas meu agora é um choro no aconchego, é a mordomia de me atrofiar, é a benção e o concentimento que dou o tempo todo pra tudo isso que não acredito e que no fim é o que me mantém vivo, aqui como estou.
A vida que levo é na verdade uma ação de má vontade da senhora Morte, que (assim como eu) não se consola com minha burrice de perceber que a vida está em outro lugar e continuar agindo com o equilíbrio morno do medo de ser o que verdadeiramente sou.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

instante sobre a saudade‏

Não sei se estou te escrevendo de verdade ou se são apenas palavras que me vem na cabeça e gostaria de dizê-las a alguém. Depois que descobri há poucos em um texto o que é saudade, tive um reflexo emaranhado de sensações e imagens retomadas na minha memória que também pensei em chamar de saudade.
O estranho foi que essas lembranças todas foram de momentos em que pensei em estar em outro lugar, largar tudo e ser outra. Deixar tudo e ser só um ser humano sem nada, sem nada que eu digo é no sentido de viver do simples e procurar o sentido do meu verdadeiro eu.
É que na verdade não consegui entender ainda o motivo de viver como todos vivem, nascer, crescer, estudar, se formar em alguma profissão, casar, ter uma casa, ter filhos, cansar, ter um amante, depois o divórcio, logo outra pessoa, mais filhos, não gostar do trabalho, divorciar-se por ter sido traída e morrer de tanta tristeza bebendo.
Sinto saudade do que não é isso, do que não consegui viver ainda, do que não consegui ser, pois estou presa aos laços da rotina, dos sonhos e dos espelhos.
A vida passa tão rápido assim que sentimos tanto medo de tentar e se errar tentar de novo?
Todo segundo, todo minuto, toda hora, anos, são jogados fora mesmo ou eles estão cada vez mais na nossa mente a ponto de nos fazer crescer na maneira de enxergar o mundo, a vida e as pessoas?
Eu te escrevo ou escrevo para alguém que tem medo do mundo como eu. Nunca falei isso a ninguém, mas odeio os carros, odeio o barulho alto e repetitivo que eles não cansam de fazer, perdidos no meio de tanta fumaça que todo mundo inala, bebe, engole com tanta força e freqüência, que tenho vontade de vomitar por falta de saúde.
Posso estar sendo grosseira demais, mas não agüento quando olho nos olhos de crianças inocentes e tenho medo do que elas podem encontrar quando crescerem. Talvez não dê nem tempo delas crescerem e perceberem o quanto é bom ser criança.
Não consigo explodir isso para ninguém, por isso explodo e evaporo em mim o tempo todo, e dói. Dói porque não consigo me mexer.
Existe tanta fumaça aqui,
existe tanto pó aqui
que meus olhos já não sentem mais vontade de se abrir.

C.

terça-feira, 15 de julho de 2008

subjetivos nós

Os oráculos apontavam planetas que flutuavam sobre sua cabeça, símbolos em cada risco de suas mãos. As estrelas aquitetavam um curioso roteiro, e tudo era sua culpa.
Tinha nas costas as nuvens e o fogo, e neles repousava. Tinha nos olhos a lua e a chuva, e era só. Era solidão e quietude, o centro de uma engrenagem que parecia em breve implodir.
Acordava, sentia, pensava, agia, e se arrependia de tudo antes de dormir. Não havia consolo em lugar algum, apenas olhos atentos.
Tinha em sua frente um espelho em que via apenas o que estava atrás de seus olhos. Talvez nunca enxergara o próprio espelho; talvez nunca tivesse descoberto a parede, talvez nunca ousara tocar o vidro, nem usara a própria voz. pois tinha receio de ser' e fazer', receio do próprio receio que sentia e mais profundamente o receio de viver, por desconfiar que verdadeiramente viver não dependia de si.

G.