quarta-feira, 16 de julho de 2008

instante sobre a saudade‏

Não sei se estou te escrevendo de verdade ou se são apenas palavras que me vem na cabeça e gostaria de dizê-las a alguém. Depois que descobri há poucos em um texto o que é saudade, tive um reflexo emaranhado de sensações e imagens retomadas na minha memória que também pensei em chamar de saudade.
O estranho foi que essas lembranças todas foram de momentos em que pensei em estar em outro lugar, largar tudo e ser outra. Deixar tudo e ser só um ser humano sem nada, sem nada que eu digo é no sentido de viver do simples e procurar o sentido do meu verdadeiro eu.
É que na verdade não consegui entender ainda o motivo de viver como todos vivem, nascer, crescer, estudar, se formar em alguma profissão, casar, ter uma casa, ter filhos, cansar, ter um amante, depois o divórcio, logo outra pessoa, mais filhos, não gostar do trabalho, divorciar-se por ter sido traída e morrer de tanta tristeza bebendo.
Sinto saudade do que não é isso, do que não consegui viver ainda, do que não consegui ser, pois estou presa aos laços da rotina, dos sonhos e dos espelhos.
A vida passa tão rápido assim que sentimos tanto medo de tentar e se errar tentar de novo?
Todo segundo, todo minuto, toda hora, anos, são jogados fora mesmo ou eles estão cada vez mais na nossa mente a ponto de nos fazer crescer na maneira de enxergar o mundo, a vida e as pessoas?
Eu te escrevo ou escrevo para alguém que tem medo do mundo como eu. Nunca falei isso a ninguém, mas odeio os carros, odeio o barulho alto e repetitivo que eles não cansam de fazer, perdidos no meio de tanta fumaça que todo mundo inala, bebe, engole com tanta força e freqüência, que tenho vontade de vomitar por falta de saúde.
Posso estar sendo grosseira demais, mas não agüento quando olho nos olhos de crianças inocentes e tenho medo do que elas podem encontrar quando crescerem. Talvez não dê nem tempo delas crescerem e perceberem o quanto é bom ser criança.
Não consigo explodir isso para ninguém, por isso explodo e evaporo em mim o tempo todo, e dói. Dói porque não consigo me mexer.
Existe tanta fumaça aqui,
existe tanto pó aqui
que meus olhos já não sentem mais vontade de se abrir.

C.

Nenhum comentário: