terça-feira, 26 de junho de 2007

telenovelamexicana. dois meses depois que tudo começou eu escrevi dizendo o quanto valia a pena. eu tinha tanta certeza daquilo, eu acreditava em cada palavra. era tudo o que eu tinha, o que me fazia sorrir: sentar, escrever, sonhar, sonhar, letras, música. sentar de novo, escrever mais uma vez, sentir por todos os dias e nunca acordar do sonho. valeu a pena. hoje não faço idéia do que isso tudo significa. de repente as letras formam outras palavras, os sonhos só vêm e vêem a noite e gritos anti-musicais. respeito tudo isso quase religiosamente. foi um ciclo, foi o ciclo. ciclo de um quadrado sem uma das arestas que definitivamente o fim não foi o começo, nem se sabe qual fim foi. algo como uma linha alternativa de algum cineasta maluco. um filme caseiro, que nunca foi produzido, que distribuidora nenhuma quis veicular. que está empoeirado na última prateleira empoeirada de algum lugar. um filme de trajetória não-linear, como o quadrado sem aresta. já quis muito, muito, um bocado, fazer esse quadrado virar um hexaoctagomilexágono. sem fim. até a vida me embalar até o infinito e por lá eu ficar até tudo perder sentido. até. esse filme película 35mm tinha uma trilha sonora de embargar a voz, de levar para onde eu queria ir. era tudo o que queria: cozinha quadriculada, cerveja quase vencida, geladeira azul calcinha, cefé preto frio, carro com lataria velha e estofado de couro, bitucas pelo chão, televisão com o mesmo botão on/off e volume. vitrola, vinil, jazz e pérolas. eu queria uma vida preto-e-branco. acreditei tanto, tanto, um bocado. agora palavra-cruzada, colorindo, pintando. e o vermelho não é sangue, que bom... filme alternativo nenhum, de cineasta maluco nenhum, tem o óbvio fim. e é esse meu ritmo: ritmo da dor, da incerteza, do anti-lugar-comum. que leva para o infinito infinito infinito finitoin infinito infinito infinito infinito toinfini nifinito innifito infinito infinito. toinfinis homens. innifitos mulheres. nifinitos possibilidades. finitoin corpos no meu. e ainda te quis matematicamente 365 dias X 24 horas/dia do ano. e o porquê disso é o que faz as pessoas sairem do sala retrô do cine com tour descolorindo para colorir de novo. é o ñãõ-sei-o-que que me fez acreditar tanto e parar o tempo num sonho pitoresco. é esse ñãõ-sei-o-que que sopra pó mágico para assistir - sozinha- mais uma vez o filme e sair do cine com tour escondendo, não sei de quem, meus olhinhos pretinhos molhados de sal. e é assim, escrevendo, que as coisas que morrem em mim antes que eu diga são ditas. eu? eu continuo rodando, rodando, rodando para segurar as lágrimas desse choro inevitável. até que alguém me ponha no chão. até.

dó com baixo em dó

1. Seu medo passando pelas minhas narinas, disfarçando nos olhos claros cada pedaço desejado em um. Sorrindo por um canto amarelado e limpo.
2. E o outro olhar te desejava ileso e completamente ofensivo por ser um malandro amado, e um amante malandro. Amante pelos dedos longos, pelos seus pêlos loiros e os olhos brilhando cores que ainda não existem, mas sim, vão existir. Porque tudo há de existir para que possa acabar. Mas não, não agora. Nunca agora. As pernas indecisas e as mãos inquietas, palavras quase sombrias só para botar banca. E para que o medo do adeus estrale forte nesse seu coração macio.
3. É preciso conhecer essa dor aí, que eu conheci agora a pouco, mas é que tentamos nos enganar pelos laços que não são mais postos pelas mães, e sim, pelos negros que queremos ter.
4. Não é possível jogar qualquer um deles sem antes conhecer, seja roxa, verde ou alaranjado. Eles ainda existem. E não pense que não.
5. Porque o nosso suor quente sobre os dedos me adormecem para um sonho que vai além das palmas.
6. E o abraço quente exalado pelo frio do vento de março, apesar do inferno astral me disse que não é o fim.
7. Não pode e não deve acabar, ainda.

domingo, 17 de junho de 2007

De novo, amor.




Azuis, vermelhas, brancas flores. Pintando o cerro dos meus olhares fossem linda garoa em cores, molhando a tarde de ares solares chamam você, bem, não fique aí, vem molhar meu beijo, te beijo também.
D.

sábado, 16 de junho de 2007

Os opostos se distraem

Eu gosto quando você está perdida em um dos quatro cantos do meu quarto, sentada com a cabeça semi-baixa, me buscando com um olhar escondido por de trás da franja torta que despenca macia mostrando sua testa, eu resolvo te encarar, mas você desvia com um olhar sutil, fingindo não me enxergar. Eu também disfarço cantando assim, quase sem cantar pedacinhos do refrão de alguma música, mascando então o chicletes duro quase esquecido no canto da boca e você acaba sorrindo com aquele jeito de ganhar o mundo inteiro em dois segundos, e eu quase que manteiga, me derreto mais uma vez.

C.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

esqueci os cálculos de novo

O receio de ver todo mundo me olhando, me encarando, me deduzindo - em formas que pelos olhos eu ainda não sei entender - era constante, e minhas mãos geladas do frio, suadas pelo nervoso, não parava de mexer no bolso da minha calça jeans velha. Meus pés cansaram de tanto bater, e de contrair os dedos dentro dos tênis limpos que usei só para a ocasião.
Meus dentes rangeram eternos intercalando com minha língua que não parava um só segundo, meu coração pulsava junto com os barulhos dos carros na rua - que a essa altura do campeonato, eu nem escutava mais - pensei na minha família, no meu objetivo de estar ali e no meu destino depois disso.
E todo mundo não parava de me olhar enquanto eu gaguejava e entortava palavras falhadas com os olhos quase embaçados de lágrimas. Um ritmo acelerado veio ao meu ouvido acompanhado por um "pííííííí" que me doloriu até franzir a testa, até tremer os lábios.
Me arrepiei inteira de medo, de ansiedade. Sentia a física quântica fazer efeito no meu cérebro e esqueci de qualquer Deus que existia dentro de mim por alguns segundos. Pensei que podia ser pecado não acreditar em alguma coisa suprema assim, e decidi esquecer os cálculos e voltar minha vida remota de castidade inversamente mentirosa.
O inverso da mentira, é a verdade - lembrei em pensamento - desfiz todos os meus pensamentos e refiz tudo de novo sem nem perceber. Até que os olhares me engoliram novamente junto com sorrisos traiçoeiros, cheios de maldade. Quando senti uma pontada no peito, e uma tontura me dominando segurei uma mão com a outra apertando até roxiar meus punhos.
Levantei, pedi licença e com o coração na boca, saí de cena novamente.

C.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Um parágrafo para alguém

Olhei pela janela e os carros passavam quase voando, ouvia barulho de buzinas e freadas fortes assustavam os pedestres que caminhavam longe, uns devagar outros completamente apressados, como o tempo que passava no meu relógio de pulso novo. O sol brilhava feito olhos que acabava de chorar, e o céu limpo trazia lembrança de algum carnaval fora de época, meio rosa, meio roxo, com tons lilases e tons púrpura levemente visíveis. Batia um vento gelado que era rapidamente esquentado pelos raios que vinham bem na minha direção queimando, me torrando a pele, cegando meus olhos e entorpecendo minha mente. Ouvi gritos de algum lado, me senti incomodada como se alguém estivesse me vigiando de algum canto. Fechei os olhos mais de uma vez, bocejei até meus olhos lacrimejarem, e voltei-me para trás, no meu quarto sombrio e quieto para uma segunda-feira agitada. Coloquei uma música alta, até que minha companheira de apartamento bater na minha porta para reclamar do barulho. Fingi diminuir, e continuei ali pensando no que fazer nesse dia cheio de coisas, mas sem nenhuma vontade. Abri o guarda-roupa não sei por que e fiquei minutos pensando em uma roupa para vestir, eu podia até pensar em andar a cidade toda, pensei em Curitiba, quis estar andando pela sete de abril, entrando no passado e sentindo o frio juntando com o sol, e mais tarde virar neblina, mas não quis sonhar demais, só queria me sentir bonita, como a tempos ninguém me via. Escolhi uma bem quentinha e neutra - como andava ultimamente - mudei de música, escovei meus dentes e a estranha sensação de alguém estar me vigiando ainda não havia passado. Coloquei meu all star azul velho já sem uma estrela do lado, peguei meu maço de cigarros e uma buzina de ônibus gritou pela cidade inteira. Corri e apareci na janela, e ao meio da multidão avistei você sorrindo por ter acabar de bater uma Combi de bolinhas brancas na traseira de um ônibus vermelho. Fechei os olhos devagar e desci como se nada tivesse visto só para você me contar do mesmo jeito que me contou em maio de uns anos atrás.


C.

Tácito eu

Teve uma hora que eu quis dizer tudo, aquela hora eu queria dizer tudo o que eu sempre quis te dizer e tudo o que eu sempre quis que você soubesse. Minha boca queria dizer frases, queria te embebedar nas minhas verdades e te entorpecer com os meus segredos, estava prestes a me denunciar quando seus olhares cúmplices compadeceram e fizeram sua boca insistir nos meus beijos, assim a minha só beijou e se calou pelo resto da noite.
Mas não pelo resto dos meus dias.

S.

Particular

Sento-me aqui para falar de minhas aflições, aflições estas que atormentam minha mente inexperiente. Palavras para descrever o quanto me apego as pequenas coisas e quanto isso me agoniza. Suspiros cheios de tremor, falta de ar. A dor chega ao ponto de quebrar tudo aquilo que estava lá dentro, que era chamado de bonito, mas que hoje se resume e se expressa no cotidiano, no vazio. Não entendo a meu ver o mundo que me engana, traiçoeiro, ganancioso, que me prega peças. Não sei lidar ainda com o novo, aquilo que foge a minha realidade, mas que ao mesmo tempo me desperta a curiosidade. Mas com o tempo, ao me descobrir, me adequo fácil a tais mudanças.
Os dias passam devagar, o vento insiste em aparecer, as folhas a cair, o clima é gelado. Arde de frieza a minha alma que esquenta ao receber as palavras mais remotas, um olhar penetrante, os mais simples gestos, um abraço apertado. A cabeça dói, acendo um cigarro para matar o tempo, o gosto amargo na boca, o café tira o sono, a música rola. Meus olhos transparecem a tristeza, nas olheiras o cansaço. Procuro uma música que encaixe em meus pensamentos, ouço aquela água com açúcar, a solidão me assusta. Procuro disfarçar soltando gargalhas, risos misturados com ar de ironia, inconstantes. Inconstante, essa é a palavra. Reflete a minha mudança de humor, de sentimentos , de sonhos perdidos. A cabeça começa a pesar, o sono vem vindo. A poesia surge espontaneamente como presente dos deuses , inspiração do inconsciente. Surge para retratar aquilo que é humano, particular. Aquilo que os olhos insistem em não contar e a razão demora a descobrir, a alma demora a transparecer... que agonia.
Calafrios, agitação, momento de sentir o coração na boca. Já não sei se aquilo que chamava de amor virou apenas cotidiano, carência. Dúvidas, paradoxos, complexos....confusão de sentimentos.


M.

domingo, 3 de junho de 2007

Leve saudosismo

"Nos despedimos deles e entramos, as portas se fecharam na nossa cara com toda a delicadeza do mundo, mas continuamos de pé, esperando aquele momento em que o trem partiria e as portas não se abririam mais.
Então nos sentamos e respiramos, vimos as paisagens mudarem rapidamente tarde da noite, e os flashes daquela cidade grande que dormia eram mais bonitos quando não tinha quase ninguém pra admirar.
Captávamos os pensamentos uma da outra, nos olhávamos e nos deleitávamos com o prazer de se morar por lá, de como éramos felizes e como nossas vidas dariam ótimos filmes. Jamais saberíamos o que viria pela frente, nem o quão maldita essas despedidas seriam. "


S.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Para a garota de blusa lilás

Ei gatora do cabelo curto
que balança a franja enquanto anda
cheira perfume que lembra lavanda,
para de brilhar os olhos olhando pra mim.
Garota com sotaque do sul
dança agachando e fazendo biquinho
só come pêssego e coisas que tem caldinho
morde alecrim e não mexe na bolsa se não for por mim.
Garota malandra que parece boneca
sua pele é macia e quase me cega
floresce menina meu dia nublado
Morena pompoza com dedos molhados
navega nas ruas sem nenhuma água
requebra e bate palma por nada e por mim
não chora desse jeito que eu choro também.
Dirigi cantando bossa nova como ninguém
pra quem gosta de dormir em qualquer canto escuro, fuma um cigarro que cheira costume
e vira uma deusa quando toca tamborim.
Sorriso de moça que vem lá de fora
faz poesia e é engraçado, pois todo mundo chora.
Meu coração é de pedra mais desmancha facinho,
garota da blusa lilás com capa graciosa, não olhe pra trás, pois te ganho com os olhos e depois não sei mais...
Garota saudável que me dá luz
não fujas assim sem me falar seu nome
me indica o endereço e sua flor codinome.
Porque seu rebolado naquela avenida
merece muito mais que um simples jardim.


C.