sábado, 27 de dezembro de 2008

claridade lúcida, impreterivelmente manhã.

Vinte e sete, Treze, dezoito e trinta e três

Esse tal de...
Diz que anda acendendo vela para Dona...
Sabe, esse tal de Espírito... não sabe?

Ele persiste em acender os cigarros
Continua abotoando os botões do paletó
para que as moças possam olhar com desejo
Mas, esse tal de...
Anda comendo muita gente,
Todos já sabem que não é mais crente
E que quem o domina, não é o salvador.

Ah, mas esse tal...
Sabe que quando o dia madruga
Boa coisa não à de vir
A polícia já amanheceu na rua
Tomando tiro dos maloca
que sabem como é difícil viver.

Na certa esse tal de...
Anda cavando buracos
Esquecendo do taco
Uivando para lua e o azul.

Ele está de sacanagem,
Querendo e não querendo
Continuar vivendo,
Sentindo e não sentindo
As nuvens e o vento.

Talvez, se esse tal...
Olhasse para mim,
Voasse para mim.
E eu,
Tão mascada,
Tão prevísivel
Perdesse a máscara
Atropelando as crianças
Esquecendo da infância
Que prometi nunca,
nunca,
Esquecer.

Ah, se apenas sorrisse.

Ao lado, ninguém
[Como vitreau
Como discos, Poesias]


C.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Tão egoísta: Carolina

O quê?
Eu. Carolina sou eu?!

Será que é mal de Carolina, ser egoísta?
Será que só as Carolinas sabem fingir o que ser?
Talvez não passa de egocentrismo, mas como cabe tanto, dentro de um único ser?
Carolina, é feito de nada
Um nada tão doce, que chega a enganar
Mas um dia a máscara caí
E em prantos, acabando à se afogar.

Olhos de azeviche, de menina
Desconhece o verdadeiro sentido de amar
Quem nasce Carolina, em boa coisa não pode acabar
Sonha em amar loucamente,
mas no fundo anda sempre doente
Dormente pra tudo, por tudo
Só mente

Não suporta a vida vazia,
Por isso faz pessoas sofrer

O que acontece com a Carolina,
Que atravessa a rua sem olhar para os lados?
Onde ficou Carolina nos anos passados?
Elas quase não lembram de nada,
Não sabem de tom, nem de seus sentimentos
diz coisas sem sentido,
pois nunca sabe o que sente.

Carolina, Carolina
Mesmo muda ainda fascina
é mesmo 'crua' sua auto-estima

Carolina, por que continuas a ser assim?

Cuidado na estrada, menina
O caminho sempre tem um fim.


C.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008






O amarelo que ainda me resta.








C.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

viva a morte em mim

Hoje mergulho na imensidão do abismo. Respiro pouco porque dói. Dói muito, dói tudo. Não sei quem sou, o que sou. Nem mesmo se existo. Derramo lágrimas amargas, meu coração está aos prantos.
Se é corpo o nome disso que encapa nossa alma, já não lembro mais como o meu é. Minha vida fugiu para um canto por aí, que não vi. Confundo o doce da morte com o azedo da vida, não sei se estou viva, meu sangue já não sinto correr.

Que pensamentos são esses, que devasta e me arrasta para um negro mar atrás do fim?
Onde fica a vida?
Eu já tive caráter?

Ouço alguém chamando um nome de longe. Não sei se é o meu. Não lembro se tenho um. Mas, é uma voz tão estigante, tão propícia, que daqui a pouco vou atrás. Só quero ter a certeza de que não é mais o vácuo, que vez ou outra aparece para me atormentar e dizer coisas sem sentido. De coisas sem sentido já basta tudo.
O vácuo entra em mim toda vez que o vazio chora. O choro faz parte do vazio que está sempre no escuro, com medo de quem tem medo.
Não adianta, coração. Você não bate e nem vai bater mais, sua escolha foi essa, então, agora assuma. O risco já passou do rabisco. A fila andou e você esqueceu de entrar.
Sai voando coração feupudo. Não cabe mais tristeza nesse mesmo ser. Não cabe nem amor. A dor ameaça contar tudo, mas as palavras somem toda vez que a boca se abre.
Mergulho, apavoro e me afogo.

Todo dia.
O tempo todo.

C.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Pois bem, a luz se apaga só resta o breu

O choro e a vela num chá da tarde

A música sanfônica o ar, largando os talheres de Baltazar

O cigarro, com sua luz ultra-solar, vem como um zumbi-vermelho-brilhante no céu


A cachorra late quando passa o trêm

Meu bem sonhando ser livre, chegar no além

Os lírios se movimentam no meio do fim


Já não enxergo.

C.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Às vezes me questiono porque não consigo dormir. Não que eu queria desesperadamente, mas não consigo. Não consigo e ponto. Aquela coisa de se sentir solitária quando olho pela janela e vejo luzes apagadas já passou. Mas existem coisas que nunca passam.

Certas aflições metidas à besta sempre voltam de madrugada e na madrugada ficam. Fantasmas idiotas sem perspectiva, eles sabem que eu não tenho medo e que se pudesse os convidaria para uma cerveja, se não estivesse tão empapuçada de beber é claro. Eles voltam para me lembrar daquelas coisas que não conseguimos esquecer. Mas isso lá são horas?

Daí ouço música, como, bebo uma coca, fumo um cigarro, volto, ouço música de novo, bebo mais coca, fumo outro cigarro e nada. Nada. Niente. Nichts.

Estão me lembrando.
Re-lembrando coisas esquisitas.
Ma-tando o que sobrou.
Asfixiando ex-cessos.


S.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Não que eu tenha desistido

Entretanto, quando já não sei nem o que escrever por aqui para que se entenda o que quero dizer quando grito o 'verbo' VERDADE, me vem minha situação presente. Estou sentado, em frente à uma máquina, numa cidade estranha, me retratando, me desculpando virtualmente, por não PODER ser livre e (verbalmente) verdadeiro.
Não posso, já que bebo da preguiça de uma cama macia todas as noites, e me dou ao luxo de sonhar confiante que um despertador vai me chamar à realidade. Já que não abro mão da expressão 'todo-o-dia', já que não tenho tanto medo da morte assim.
Sendo que Esta (a Morte) se esconde atrás do próximo segundo, e apareçe a cada instante, cada vez mais perto, cada vez mais colorida [no andar de baixo, na televisão, na cidade vizinha e no cheiro de um cão estirado no meio na rua] pra me gritar : VIVA AGORA.
Mas meu agora é um choro no aconchego, é a mordomia de me atrofiar, é a benção e o concentimento que dou o tempo todo pra tudo isso que não acredito e que no fim é o que me mantém vivo, aqui como estou.
A vida que levo é na verdade uma ação de má vontade da senhora Morte, que (assim como eu) não se consola com minha burrice de perceber que a vida está em outro lugar e continuar agindo com o equilíbrio morno do medo de ser o que verdadeiramente sou.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

instante sobre a saudade‏

Não sei se estou te escrevendo de verdade ou se são apenas palavras que me vem na cabeça e gostaria de dizê-las a alguém. Depois que descobri há poucos em um texto o que é saudade, tive um reflexo emaranhado de sensações e imagens retomadas na minha memória que também pensei em chamar de saudade.
O estranho foi que essas lembranças todas foram de momentos em que pensei em estar em outro lugar, largar tudo e ser outra. Deixar tudo e ser só um ser humano sem nada, sem nada que eu digo é no sentido de viver do simples e procurar o sentido do meu verdadeiro eu.
É que na verdade não consegui entender ainda o motivo de viver como todos vivem, nascer, crescer, estudar, se formar em alguma profissão, casar, ter uma casa, ter filhos, cansar, ter um amante, depois o divórcio, logo outra pessoa, mais filhos, não gostar do trabalho, divorciar-se por ter sido traída e morrer de tanta tristeza bebendo.
Sinto saudade do que não é isso, do que não consegui viver ainda, do que não consegui ser, pois estou presa aos laços da rotina, dos sonhos e dos espelhos.
A vida passa tão rápido assim que sentimos tanto medo de tentar e se errar tentar de novo?
Todo segundo, todo minuto, toda hora, anos, são jogados fora mesmo ou eles estão cada vez mais na nossa mente a ponto de nos fazer crescer na maneira de enxergar o mundo, a vida e as pessoas?
Eu te escrevo ou escrevo para alguém que tem medo do mundo como eu. Nunca falei isso a ninguém, mas odeio os carros, odeio o barulho alto e repetitivo que eles não cansam de fazer, perdidos no meio de tanta fumaça que todo mundo inala, bebe, engole com tanta força e freqüência, que tenho vontade de vomitar por falta de saúde.
Posso estar sendo grosseira demais, mas não agüento quando olho nos olhos de crianças inocentes e tenho medo do que elas podem encontrar quando crescerem. Talvez não dê nem tempo delas crescerem e perceberem o quanto é bom ser criança.
Não consigo explodir isso para ninguém, por isso explodo e evaporo em mim o tempo todo, e dói. Dói porque não consigo me mexer.
Existe tanta fumaça aqui,
existe tanto pó aqui
que meus olhos já não sentem mais vontade de se abrir.

C.

terça-feira, 15 de julho de 2008

subjetivos nós

Os oráculos apontavam planetas que flutuavam sobre sua cabeça, símbolos em cada risco de suas mãos. As estrelas aquitetavam um curioso roteiro, e tudo era sua culpa.
Tinha nas costas as nuvens e o fogo, e neles repousava. Tinha nos olhos a lua e a chuva, e era só. Era solidão e quietude, o centro de uma engrenagem que parecia em breve implodir.
Acordava, sentia, pensava, agia, e se arrependia de tudo antes de dormir. Não havia consolo em lugar algum, apenas olhos atentos.
Tinha em sua frente um espelho em que via apenas o que estava atrás de seus olhos. Talvez nunca enxergara o próprio espelho; talvez nunca tivesse descoberto a parede, talvez nunca ousara tocar o vidro, nem usara a própria voz. pois tinha receio de ser' e fazer', receio do próprio receio que sentia e mais profundamente o receio de viver, por desconfiar que verdadeiramente viver não dependia de si.

G.

domingo, 15 de junho de 2008


de N.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Desabafo.

Fui tomado por um monte de arrepios. Meu coração apertou e minha fala estacou na garganta.
Ela me surpreendeu com a última conversa.
Poço. Fundo do poço. Não há mais riso, nem alegria.
Queria conseguir encarar tudo de cabeça erguida, mas não vai ser simples assim.
Decisões, precipitadas, podem, ou não, arruinar uma vida, a minha vida.
Eu nunca quis, e não quero, magoar ninguém. Mas eu conheço todo o fim dessa história.
Magoado, sempre saio eu.
Destruído.



D.

sábado, 31 de maio de 2008

A noite, do lado de lá.

Juntei todas as minhas coisas. Abri a porta, acendi um cigarro e olhei para atrás, só pra ter a certeza de que você ia estar me olhando, chorosa. Não hesitei, fechei a porta e fui embora. Eu não aguentava mais, precisava respirar.
Cheguei no hall do prédio, um vento gelado. Como um animal, meus pêlos se eriçaram e me esquentaram do vento. Coloquei meus óculos e segui em frente. Adeus.
Como quem termina uma página do livro, virei a minha página. A partir de agora era tudo branco, limpo e liso pra eu escrever. O primeiro passo foi difícil, porém não tive medo. Fui em frente.
Agora sou eu que escrevo. Eu decido se quero sofrer, ou não. Dar risada também, me afogar na primeira poça. Eu decido.
E decidi não olhar para atrás. Não te ver mais.
O meu cordão com você é para todo o resto, então, por hora, seja rompido.




D.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Muliere

Não há nada mais belo nesse universo de sentimentos coisificados
Do que uma mulher com suas curvas periclitantes,
Seus suores cheirando a perfume francês,
Seus seios, esféricos,
Fruto da perdição divina,
adocicado, perene.
Nã0 há nada mais sagrado cercado de atmosfera mundana,
Do que a fragilidade da mulher,
Ninfa, anjo, puta,
Querendo se encontrar,
Fingindo se perder.
Mulher é líquido adocicado,
E se saber mulher, é prová-lo
Precisando
Apenas
Fechar os olhos,
E abrir todo o resto.
Mulher é grande tendo não menos não mais que um metro e sessenta e poucos.
Mulher é bicho,
É música, é estrada escura,
vazia.
É trânsito da seis,
É surto da madrugada.
Mulher é a dor e o prazer de ser e se sentir

Mulher,
O tudo
querendo ser quase-nada.

L.

sábado, 10 de maio de 2008

Eu minto.

Eu minto durante todas as estações, principalmente nessa, quando os ventos são mais frios e os dias mais curtos. Minto quando acordo e quando durmo, quando falo e quando danço, e até quando digo que te amo. Minto todos os dias, a toda hora e para todas as pessoas. Nessa época do ano, os malditos ventos frios trazem o desordenado incômodo da inconstância. Minto por que tenho motivos de sobra para não querer a verdade. Ela me entorpece e ludibria enquanto flutuo sem maiores preocupações.
Não te amo, apenas sinto falta da perna que amputei, a perna que mal sinto que mal conheço que mal vejo e que tanto sei. Ardo pelo amor que um dia alimentei e sigo mentindo costurando as minhas inverdades com as inverdades alheias, procurando a insensatez onde ela não existe, tentando acertar insistindo no erro, acreditando nas minhas mentiras, como se elas durassem até amanhã.
Saudosa verdade, foste a razão da minha honestidade. Mas há tempos olho nos seus olhos e te faço acreditar em todas as minhas mentiras, exatamente como acredito piamente nas suas quando me falas tão verdadeiramente.
Perdão, às vezes me esqueço da sua natureza devassa. Ah, e perdoe também a minha sinceridade, eu sei que ela destrói tudo o que ainda resta de bom naquilo que fazemos tanta questão de dizer que está encerrado.
Por isso sigo mentindo, todos os dias, a toda hora e para todas as pessoas...
Minto para nem saber da verdade.

S.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Inverno delicado.

Fiquei parado te ouvindo cantar.
Sentava e levantava. Hesitei.
Você roubava minha atenção, mas eu não me movia.
Meus olhos estavam deslumbrados com a lua.
Minha cabeça, atrapalhada.
Você me olhava.
Eu não tinha mais o que dizer.
Meus pés frios, minhas mãos geladas, meu coração acelerado.
Não hesitei.
Te abracei e te beijei como nunca tínhamos feito antes. Era amor.O nosso amor.
O beijo, o abraço são como grãos de areia do infinito mar de amor que carrego comigo.
E que todos os dias o tenho em meu horizonte.


D.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

margaridas amarelas

Hoje recebi flores, daquelas que não consigo parar de olhar, não sei quem me mandou, mas no cartão estava escrito "dos tempos de ontem e aos nossos sonhos". Fiquei o dia inteiro entalada, sem saber o que fazer, só olhando aquelas margaridas amarelas, pensando em quem poderia me mandar flores numa sexta-feira depois do feriado.

Quando olho para elas me vêm lembranças de um dia de primavera que uma menina andava para o mesmo caminho que eu, do outro lado da rua. Eu a seguia com os olhos como se conhecesse aqueles olhos tristes de algum lugar, seus cabelos estavam raspados e o ar que me estranhava era que eu estava interessada por uma menina que parecia ter uma doença destruídora.
Nesse dia ventava um vento frio e eu não conseguia enxergar nada a minha frente, só seguia devagar com os olhos aquela menina do outro lado da rua. Tinha tanta vontade de atravessar a rua e pegar na mão dela, tinha vontade de chorar e abraça-lá sem ao menos dizer uma palavra, mas me contive quando percebi que ela iria atravessar a rua.
Quando olhei para trás, avistei uma daquelas caminhonetes grandes que a maioria dos fazendeiros tem, num desespero imenso joguei minha bolsa e minha blusa no chão, saí correndo em direção da menina pálida que se quer olhava para o lado antes de atravessar a rua, quando estava perto de detê-la escorreguei no sabão de uma calçada que estava sendo lavada. Só deu tempo de ouvir o barulho da freada e a dor do grito dela - foi o grito mais silencioso que lembro ter escutado.
Fui mancando até ela, já havia uma multidão de gente envolta da menina atropelada. O homem de bigode que estava dirigindo a caminhonete estava apavorado, deixou o telefone com a dona de um hotel que tinha ali perto e saiu sem prestar socorro algum. Fui entrando naquele formigueiro de pessoas, quando eu cheguei ao centro ela estava toda ensangüentada e ao lado tinha uma margarida amarela quase sem pétalas. Ouvi as pessoas falando que ela já estava morta, então segurei sua mão para sentir se ainda havia alguma pulsação, mas estava tão quieto e silencioso quanto seus olhos.
Ajoelhei-me ao lado dela e senti um nó na garganta tão grande que desejei morrer ali, segurando aquela mão. Aos poucos as pessoas foram embora, e o socorro demorou quase duas horas para chegar, fiquei ajoelhada com uma dor no peito, segurava o choro, e ainda sentia algumas lágrimas caindo no chão. Não conseguia parar de olhar aquele rosto pálido e magro, seus lábios vermelhos já estavam perdendo a cor. De repente parou de ventar, olhei para trás e a ambulância estava chegando. Olhei pela última vez aquela menina totalmente desconhecida que naquela hora parecia estar mais feliz do que quando a vi caminhando devagar do outro lado da calçada.

Eu sei que não foi a menina pálida que me mandou as flores hoje, mas desde a hora que acordei com as margaridas e aquele cartão estranho, não paro de pensar naquele dia, e no porque eu olhava tanto aquela menina do outro lado da rua. Fico me perguntando se ela percebeu que eu a olhava, mas cheguei à conclusão que ela não me viu e não me sentiu em momento algum. Sinto tanta falta dela hoje, queria apenas sentir sua presença em algum dia de vento.

C.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Corretempopassalogoqueprecisomuitaforçamuitaforça

Estou perdida no estado das coisas. Disso que passa rápido mas não passa nunca. Do tempo que corre, mas não chega a lugar algum.
Me perdi – tão forte foi o encontro com partes de mim tão secretas. Eis a vertigem do amor.
Palavra não me pega mais. Mas é ela que eu pinto de refúgio e dou o nome que eu bem entender. Estou do sentir. Não quero falar. Não quero escrever. Não quero contar. Quero tocar cada pedacinho dos pesares. Quero sen-tir.
Estou assim, cheia de frasesinhas de filmes adolescentes na cabeça. Nadando por lugares em que não consigo tocar o fundo com os pés – mas sei que ele está lá.
Mergulhada em clichês, sem medo do que me chega, mas não me toca. Porque nada me toca. Quase nada. Estou parada, ilesa, a espera. E eu espero. Espero o tempo correr, o relógio girar. E acho que é tudo um grande labirinto, e eu não quero me perder de mim. Não quero perder esse friozinho bom no estômago. O friozinho bom da espera. Que gela tudo só pra poder esquentar depois.
Digo com os pulmões cheios de ares ansiosos, que não há palavra que denomine, nem verso que explique a mistura de sensações que me invadem a cada passar das horas. Não, não há nada. Tenho fome de você. Saudadeamorvontade de percorrer cada aresta do teu corpo. Só você precisa saber o que se esconde atrás do que eu pretendo dizer.
Corre tempo. Emenda tudo – passadopresentefuturo.
Passa logo. Como naquele poema do Bandeira...

Menina bonita Do vestido verde Me dá tua boca Pra matar minha sede Oô...Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Oô...Vou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente
Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força....

L.

Tango para Layse

Assistindo meu pobre músculo sangrento palpitar, não pude deixar de notar: era tão suculento, avermelhado e pulsante, tão atraente em seu ritmo e cor. Sendo assim, coloquei-o ao ar livre, pra que seu cheiro absurdo pudesse tambem pulsar. alguem me pediu pra mordê-lo, e deixei.
Agora ele vaza, escorre, definha pelo buraco da mordida geométrica e adorada.
Não posso deixar de olhar para o triste e respeitoso espetáculo do qual pareço estar de fora, passivo. sendo assim, não posso escrever, nem pintar. posso só gritar o eco líquido da minha paixão carnívora, pulsante, como o sangue que ainda palpita na calçada.


G.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Eu não quero mais perder meu tempo tentando me achar. Então vou logo ali no bar me perder. Ao menos esqueço até amanhã, antes disso não quero mais relembrar. Depois das 3 eu desafino e maltrato estranhos, digo que odeio quem amo e admiro toda e qualquer coisa que me lembre o quão miserável me sinto quando quero esquecer. Depois de muitas e outras, beijo o cinismo, que para me ver contente e esquecida, me embebeda até de manhã. Me apaixono pelo sarcasmo, mas como todo equívoco de noites mal dormidas e bem bebidas, vou pra cama é com a ironia. E como toda puta, ela me deixa sempre depois do cigarro. Depois de me ver dormindo exausta e maltratada de tanto tentar esquecer, me deixa um bilhete no espelho: Coração não tem amnésia.
S.

domingo, 2 de março de 2008

(ego)cêntrica

Agraciada ficou a minha sorte. Ficou exposta, translúcida e intocável. Tudo é desfigurado e impotente, corpo algum me estremece a carne, boca alguma me liberta a alma. Então é aqui que paro. É aqui que te deixo o meu legado de palavras. Aqui que te esvazio de mim, que faço fluir o emaranhado de sentimentos que não te pertencem nem te dizem respeito anymore. Aqui jaz a turbulência da minha alma aflita. E a partir de hoje, reinará em mim os dias vazios que estão por vir sem a tua presença.

S.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A mulher que fumava

Não sei explicar em que dia isso começou. Só sei que eu estava na minha janela, olhando o céu, a luz, chorando para aquela neblina toda, ou o que quer que seja, mas olhando. Olhando além da janela. Além do peso material do concreto a me puxar para a realidade. Quando vi. Assim, sem mais nem menos. De repente, vi. Ela.Cabelos presos de um jeito engraçado que eu não sei explicar direito. A franja, torta numa perfeição imensa, caindo sobre os olhos, que eu não vi. Mas deviam ser negros. Negros pra disfarçar a profundidade à flor da pele. A profundidade que me feria sem nem me tocar. Ela sempre estava lá quando eu olhava. Ou eu olhava só para encontrá-la, perplexa, com os cotovelos apoiados no beiral da sacada fria. Depois, calmamente, quase em um estado estranho de lentidão forçada, ela alcançava o maço de cigarros em algum lugar que eu não sei dizer certo qual é, acendia um com o fósforo, e ficava lá. Encostada na parede branca, cheia de marcas e dores de outras pessoas, marcas e dores que ela pendurava, vez em quando, para observar em quanto fumava um dos seus cigarros. Nunca a vi com ninguém. A não ser com ela mesma, o que, sinceramente, acho que já bastava. Ela pesava inteirinha. Adormeci várias vezes com o peso dos seus cílios sobre meus olhos. Mas era leveza também. Uma leveza dolorida. Uma leveza quando se quer o abraço forte e o beijo que arde. Brisa marinha na avenida central da paulicéia desvairada. Deixei de sair por alguns dias à espera dela. A espera do não-sei-o-que que sempre me faz esperar mais do que posso. Que sempre me faz perder livros e amores dentre as estantes do meu quarto. A espera que me faz deitar sobre alguém e só ser lençol. Na verdade, não sei se foram dias. Anos, quem sabe. Talvez tenham sido só semanas. As nossas semanas. Nossas, pra mim. Da solidão, pra ela. Eu a olhava numa euforia perplexa. As vezes, por trás das cortinas do meu apartamento que tinha cheiro de mofo aconchegante, as vezes, sem pudores, encarava-a na esperança do olhar recíproco que só chegou até mim uma vez.Uma só vez que valeu por todos os desejos de sorrisos e olhares e mordidas e beijos sem fim e outonos o ano todo e roupas no chão e chaleiras apitando e vitrolas tocando no meio da sala e cortinas arrebentando e lençóis se enrolando pelas nossas pernas emergentes.Eu estava lá, sentado na cadeira de plástico branca, com um caderno velho no colo, cheio de sentimentos e quinquilharias, tentando escrever mais sentimentos e quinquilharias sem deixar virar sentimento-quinquilharia -Porque esses só são bons separados. O céu estava num tom vermelho-púrpura, me fazendo querer tocá-lo, lambê-lo, cheirá-lo. Dançar naquele céu. Morrer naquele céu. O céu me doía em cada fragmento de escuridão. Levantei-me e fui preparar o café. Fiquei sentado no chão frio da cozinha, observando o amontoado de paixões e copos sujos que se acumulavam, pouco a pouco, em mim. O cheiro do café começou a invadir os meus pensamentos. Estava pronto. Coloquei tudo na caneca e segui até a minha sacada. A minha sacada de frente pra sacada dela. A minha realidade de frente para o sonho dela. A minha loucura se entendendo com a desordem dela. O suposto toque das mãos dela, nela, pondo-me em pedaços. Quando me encostei sobre o beiral da sacada, sobre o beiral de mim, ela estava lá. Meu coração era uma engrenagem em quebrante silencioso. Ela estava lá. Do mesmo jeito. Com os cabelos presos do jeito engraçado, a camiseta branca, que, de tão larga deixava um dos ombros magros a mostra e uma calcinha, que, assim, de onde eu via, parecia também branca. Ela parecia ter saído de um quadro surrealista pintado pelas minhas mãos. Era toda sonho. Era toda poesia. Poesia marginal. Poesia de grito. Do meu grito. Ela acendeu um cigarro – igual a tantos outros que já havia acendido antes – E, assim que terminou de dar a primeira tragada, no momento exato em que sua franja caiu sobre os olhos, sobre os dela, sobre os meus, ela ergueu o olhar. Erguer o olhar é diferente de erguer os olhos. E ela ergueu o olhar. Pra mim. Me entregou a profundidade dentro das mãos em forma de concha. Eu espiei um pouquinho. Mas ela abriu de uma vez, e aquilo se perdeu nela. Se perdeu em mim. Me perdi em você, céu meu.Nos olhamos. E, antes que o segundo trago viesse a tona, tive a impressão de a ver dando um leve sorriso. Um sorriso com os olhos. Um sorriso com o corpo todo. Depois disso, apagou o cigarro quase inteiro no copo que fazia o papel de cinzeiro no roteiro improvisado do nosso filme barato, virou-se de costas, fechou as cortinas escuras, e entrou. Nunca mais a vi. Acordo todos os dias cedo. Acordo no meio da noite. Não consigo dormir. Durmo. Acordo. Perco o sono. Perco-me nela. Perco-me em mim. Perco-me entre as muitas janelas. Bebo whisky sem gelo. Cheiro algumas carreiras sobre a cadeira velha de plástico da sacada. Fumo um cigarro. Fumo outro. Choro um pouco. Acendo outro cigarro. Olho para a janela dela. Nada. Ela nunca mais esteve lá depois de estar aqui, em mim. Não sei o que aconteceu. Só sei que entre eu e ela houve uma compreensão mútua e plenamente intocável. Ainda sento todas as noites sobre a cadeira branca. Apoio a mão esquerda sobre o beiral da sacada, e seguro um cigarro com a mão direita, a fim de suprir a falta que faz a presença dela a me segurar pela mão. Ainda quero experimentar o céu, mas não tenho coragem de encará-lo, porque é só o vento dela que dança pelos meus cabelos. Fico assim. Perplexo. Acendo dois cigarros. Um eu fumo. O outro deixo queimar. Olho para aquela janela. A janela dos olhos dela. E, assim, sem mais, sinto o peso da fumaça que sai da boca dela a me invadir o corpo.Olho mais uma vez. E adormeço com as mãos concha.

L.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Últimos 15 minutos de reticências

O outono está chegando, e as ventanias também. E eu sei desde sempre, que esses ventos sujam a casa que eu passo meses limpando. Dessa vez eu não vou arrumar nem limpar, vou largar meus pedaços por aí. Por favor, não repare na bagunça, pare de olhar pra trás e largue tudo como está. O carnaval acabou e com ele se foram as mágoas e as borboletas.

Por isso não tenha medo de admitir que o samba morreu, o disco riscou e nessa casa só sobraram cinzeiros cheios e copos vazios. Se antes eu me perdia na mentira, agora não me acho na verdade. Não me acho na minha, muito menos na sua.

Então é com grande pesar que te peço que guarde com carinho os momentos alienáveis com a estranha familiaridade na caixinha de coisas intransferíveis. Peço também, que em silêncio, apague a luz... tranque a porta e deixe a chave.
Agora vou dormir, ando judiada com essa vida de dona de casa.

S.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Depois das 3

O meu equilíbrio sempre foi uma condição desfigurada e um anseio errôneo de que eu o alcançaria atingindo as duas extremidades do exagero.
A minha concepção de vida, sempre foi um misto deturpado de circunstâncias que agreguei unindo tudo o que sempre me ensinaram com tudo aquilo que eu queria ser.
Os meus conflitos, nunca passaram de devaneos egoístas que nasceram de um ponto de vista mesquinho e particular.
A efemeridade dos meus atos, a cólera da minha impotência, a inércia da minha razão e a benevolencia da minha alma refletem as nuances descabidas do meu caráter frívolo e inconstante.
Por isso afirmo que, a urgência da minha existencia, continua sendo mistério.
Ao menos pra mim.
S.