quarta-feira, 30 de maio de 2007

contrapé modelo bem forte

converso comigo antes que me esqueça. acordo de manhã e fico passando cremes e cremes e loções e loções e pastas e pastas. olho isso aqui, olho aquilo acolá. me reconheco no espelho que me faz gêmea. olho meu seio e levanto-os com as mãos sonhando uma plástica. olho de costas e quem sabe uma lipo. aqui dentro sei que não vou fazer, não vou fazer. quero acreditar que cada idade tem sua beleza e que eu posso doar tal dinheiro para um elefante orfão em Bombaim e isso sim é coisa bacana. e, poxa vida, envelhecer não pode ser tão ruim assim. o joelho continua sendo seu, o seio continua sendo seu e as rugas passam a ser suas. o joelho continua sendo eu, o seio continua sendo eu e as rugas passam a ser eu. o corpo não é meu, é eu, sou eu. se você tem um pai ou mãe médico é só ir até a estante e procurar um livro de anatomia. agora me diz, me diz, me diz que quero saber: onde está a mente? você pode me dizer com exata precisão onde está o encéfalo, a caixa encefálica, o crânio, o cerebelo, mas não pode me dizer não onde diabos a mente se esconde. e os sentimentos o que são? são meus, são eu, sou eu. e como ir ao hospital e fazer o eu seio comer silicone até quase vomitar? como ir na clínica e deixar que tirem um pedaço de você, do seu eu nádegas? o engraçado é saber que vou te encontrar daqui 50 anos e ainda vou saber que é você, que é você. que o olho é você, que sua mente é você, que seu sentimento é você. talvez não lembre seu nome, mas nunca esquecerei um traço. uma pessoa com rosto e sem nome.

-pois é, é assim que é...

estávamos discutindo no clube da esquina. algo sobre a existência e algum sentido, algo sobre o caminho e algumas flechas, algo sobre como me sinto amputada de alguma percepção. algo que me falta e que me toca lá dentro, lá dentro. você pode dar 6 palitos para alguém e pedir que com eles construa 4 triângulos equiláteros. a solução consta em algo 3D. mas não, estamos presos só no aqui, no agora. e se você não existe aqui e agora, talvez você não exista além da minha mente. você não está aqui e nem agora. o que existe é só o aqui e agora, não? e quem pode dizer que sonhos não são aqui e agora? ou talvez lá e ontem? que quando eu sonho, talvez você também sonhe. e sou sonho, você é sonho e quem sabe nos encontramos e jogamos aquela sinuca com a alma ou seja lá como for. né? talvez queira me apegar nisso porque você ai, tãããão longe... quero acreditar que esses malditos filmes fantasmas que não me descansam têm a ver com algo real. afinal, se saiu de mim, é eu. meu sonho sou eu. quero muito tanto um bocado saber se sonhou, se ainda sonha. saber se também esteve lá naquela rua, olhando a sombra dos galhos no asfalto, aquela que certa vez comentamos gemeamente. saber se se estivesse aqui na região, iria gostar da conversa de ontem como gostei, se iria pegar mototáxi quantas vezes fosse necessário e se iria ajeitar minhas mantas na mochila enquanto eu chorava bobeiras. se ia olhar nos meus olhos e ver poesia, como sempre grito e você não escuta. saber se daqui 50 ou 5 anos, quando tudo reacontecer, se você vai me dizer seu nome e se vai perguntar o meu.

e você nem imagina, mas me inscrevo em todas promoções possíveis para ganhar uma viagem para ver algum pop show pela américa. e juro que toda noite torco para ter sorte suficiente.

F.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Nuvens de algodão

Gritei com minh'alma que não parava de suspirar enquanto você cantava com aqueles olhinhos apertados e tão brilhantes no meio daquele nada, um nada só nosso, todo nosso. Tão azul que anestesiava o silêncio do frio, no encontro de nossas mãos congeladas e quentes ao mesmo tempo, uma com a outra uma noutra.

Apenas mais uma de amor - repetia em pensamento ouvindo você cantar todas as músicas que eu mais gosto de ouvir você cantar. De um jeito todo doce que me encanta até nas reclamações de frio, de dor, de saudade.

Fechei os olhos devagar mais de uma vez, e te ouvir falando deles é como um tobogã que sai lá do alto perto das nuvens e vai até lá embaixo encostando na areia, acelerando tudo nas curvas que me davam mais que frio, mais que borboletas, mais que mudanças de estados dentro da minha barriga vazia.

Depois que te dei aquele céu bordado de hoje sem você nem perceber, senti seu gosto de algodão num beijo de saudade.


C.

Piscar de olhar

Meu tempo de um piscar de olhos está preso no conta-gotas para poder te acompanhar.
Meu trem vai parar na tua estação e pretendo demorar. Trago na bagagem os mais exóticos temperos, os perfumes mais instigantes, os fios mais insinuantes e as flores mais delicadas que encontrei no caminho. Além dos agrados e lembranças, tenho no bolso direito do meu casaco vermelho uma pequena dose da certeza de que não irá se arrepender por me esperar, no meu tempo, na tua estação.

Vou logo avisando que não me acostumo fácil com às mudanças de fuso horário, mas espero que a adaptação seja acompanhada de pequenos prazeres, para quando chegar a hora de partir outra vez, possa levar, não apenas a memória, mas os reflexos dos seus traços fortes nos meus olhos da forma mais íntima e intensa que conhecer com você.


R.

Ich liebe den Moment, in dem man fällt.

Amo aqueles momentos inalienáveis, aquela estranha familiaridade e todas aquelas coisas intransferíveis.
Amo cada fragmento de segundo em que eu me perco, me acho, me jogo e caio.
Amo aquela parte em que nem o passado nem o futuro interferem, aquele pedaço de insensatez que sempre me rouba 15 minutos.
Amo a minha falta de tempo, mas gosto mais ainda do tempo que eu acho pra compartilhar a minha irracionalidade com ou sem rodeios, embebidos de vinho e perfume francês.

Talvez eu tenha me acomodado na clandestinidade dos meus atos cometendo meus crimes aqui e ali, crimes que não são só meus.
Por isso amo essa verdade irremediável, esse escândalo de sentidos e esse afloramento inescrupuloso.
Sinto-me como uma verdadeira irresponsávelcúmpliceculpadadesajuizada.
Tudo em função daquelas coisas que já não consigo e nem quero olvidar.

S.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Morrer não dói

Eu abaixei a cabeça para que ninguém me visse chorar. O ar de desespero era tão grande, tão negro que eu tive que fingir força, só para a luz clara e perdida que mantia o silêncio de morte não refletir em mim.
Minha mãe perdeu o olhar, e eu parada ali, olhando o dela, perdi também. Enquanto eu tentava abraçá-la acabávamos tremendo, tremendo e tremendo tanto, que escutei um trem vibrar no lugar do coração dela, pensei que ela fosse o trilho, mas ontem soube que o trilho sempre fui eu. Um trilho que não pode mudar nadinha, para que o caminho faça sentido e não termine em qualquer abismo.
Tomei quatro cafés quentes vendo ela fumar um maço inteiro de cigarros. Eu continuava abaixando a cabeça enquanto ela corria feito criança rodeando aquele caixão escuro, cheio de detalhes em dourado. Corria, olhava, falava, chorava feito criança - parecia minha filha - enquanto eu olhava a vela queimar ardendo os olhos, e ela se movimentava para frente e para trás, envolvida em algum balanço tranqüilo repetindo pequenas frases de alguma canção.
De repente como um aberto, ela me abraçou e disse bem baixinho na ponta do meu ouvido "Parece uma anestesia que não me deixa entender nada", e eu, me sentindo completamente fria, lembrei das borboletas do cazuza e sussurrei como se fosse vento na orelha dela "Morrer não dói, Mãe.". Vi aqueles olhos deslizarem devagar acompanhando a mão que apertava aquela outra mão roxa, gelada e morta da Dona Rosa.
Olhei-a dos pés a cabeça, toda encaixotada, brilhante de flores novas. Flores nuas de temor. Fui ao banheiro e quis fumar do mesmo cigarro que minha mãe - já que é pra morrer - pensei sozinha. Sentei na privada fechada e jurei querer ouvir aquela voz, aquela respiração e aquele arrastar de pés de novo, mas não pude querer muito, minha mãe continuava lá, na beira do caixão, só os olhos que se mexiam.
Dentro de seis horas que fiquei ali achei que ia enlouquecer junto das centenas de vezes que fui apertada em forma de abraço, ouvindo palavras tortas, perguntas mortas e medos novos. Os treze graus que faziam na madrugada, passavam retos como se eu nunca tivesse sentido nada. Tive ânsia várias vezes, e meus olhos pregavam com tanta força que lembrei de Jesus na cruz.

O maço dela acabou de novo, abaixei minha cabeça e não quis nunca mais chorar, pensei que a morte podia ser confortável e duvidei dela mesma até amanhecer, vendo aquelas velas queimarem, as pessoas sumirem, menos ela, minha mãe, que continuava paralisada, olhando para a vida, pensando na morte.
Fechei os olhos e senti uma cabeça se ajeitado no meu ombro esquerdo, meu nariz trancou na hora, meus dentes rangeram e meus ouvidos doeram com aquela voz lenta e doce me perguntando "E se eu morrer?" e entre um choro amargo, meio engasgado com o nó que crescia feito bexiga na minha garganta, respondi mais de sete vezes morrendo de medo - "Não sei.. Não sei.. Não sei.. Não sei.. Não sei.. Não sei.. Não sei..." até que minha cabeça encaixou em algum lugar da cabeça dela.


"O pó volta a terra como o era, o espírito volta a Deus que o deu." Eclesiastes 12;7


C.

E o que diriam as moças do bordel? O senhor das senhorias encontrou sua prisão. Pecou nos braços limpos, se limpou.
Como adivinharia que aquela dos cachos definidos e olhar submisso era sua sentença? Nunca entenderia que viveu todo aquele horror só para esse pecado consumido. A vida torna-se aguda quando afunilada. Os sentidos exageram e a sensação desespera. Já fora apaixonado sim, tinha certeza. O que não lhe contaram é que nada daquilo era amor e ódio. Nunca se odeia quando apaixonado. Ódio está de mãos dadas sempre ao amor.
Que letra mais batida. E grite asneiras aquele que nunca largou a vida para visitar um coração.
E grite poesias que eu te amarei. Não com todos os tons. E nem melodia. Só sem matéria.
Se somos um emaranhado de partículas concentradas num lugar, então é esse também o amor.
Concentração.

N.

domingo, 27 de maio de 2007

saúde

C sinto que estou de pé num deserto com as G mãos estendidas, e C você chove G torrencialmente sobre mim. F minha alma tem as curvas e a forma da Am dor, F e eu quase não me sei ser sem Am ela (G) C vive cá dentro como se fosse G moradia própria, C vai até um limite e depois G constrói um muro de Berlim. não sei, mas não paro de ver as listrinhas Am do seu shorts na minha F alma quando olho para a sua Am janela. (G) C almas, quero um gole da tua G alma C e um outro do seu G sorriso. (A G INTENSIDADE) F alcoólicas de Hilda Am Hilst, F árias pequenas para Am bandolim. G e por que não dizer que o mundo C respirava mais G se ela apertava assim Am seu colo? F antes que o mundo acabe, você, deita-te Am e prova o F milagre do gosto que se fez na Am minha boca G enquanto o mundo grita C belicoso. e ao meu G lado te fazes C árabe, me G faço israelita e nos cobrimos de beijos e de C flores. F antes que o mundo acabe, antes que acabe em Am nós o desejo... F aflição de ser eu e não ser Am outra. F aflição de não ser, amor, Am aquela. e por um G triz não te sou C também. vou G ficar com você na cabeça a noite C toda. coma G frutas e legumes, por C favor. se não te G cuido eu me C morro.coma G frutas e legumes, frutas e legumes C por favor.

sábado, 26 de maio de 2007

Sob consentimento meu.

Saí de casa confiante de que hoje seria diferente e foi, minha indiferença não ficou tão evidente mas a minha superioridade cínica voltou como se nunca tivesse ido embora.

Naquele momento eu apenas olhei, e com frieza diagnostiquei o que já estava claro há muito tempo. Deixei que falassem no meu lugar, também não me importei com as longas pausas e nem com aquele silêncio que antes era incômodo.

O silêncio foi música, e eu pude ter o prazer de me calar e ouvir com paixão, por que era isso que eu queria, queria que meu silêncio fosse sinfonia, que invadisse cada canto seu e te atormentasse como a sua inquietude me atormenta, que fosse agudo e grave, que quebrasse copos e que incomodasse vizinhos, que acordasse o mundo para eu então apenas olhar e simplesmente deixar passar, deixar passar aquele momento de dizer as coisas certas. Eu não teria coisas belas nem certas a te dizer, eu não esperaria pelo momento por que sei que ele nunca vai existir, mas caso existisse e entrasse pela janela eu abriria a porta, me esconderia debaixo da cama ou o expulsaria com fervor.

De verdade verdadeira eu me importei com pouca coisa, só pensava em tudo aquilo que você queria saber e em tudo aquilo que eu nunca ia falar.

Não doeu, não machucou nem arrancou pedaço, só peguei a gripe da apatia.

E é só por isso que eu não canto, por que quando estou com você, a única coisa que gosto de ouvir é o meu próprio silêncio, mas para ouvir o meu silêncio eu não preciso de companhia.

S.

Fui flor em outra vida

O que você foi em outra vida? Essa questão sempre vem à tona em algum momento. Vai me dizer que você nunca pensou nisso? Claro que pensou. Todo mundo pensa. Eu já cheguei a achar que essa é a minha primeira vida, porque é torta demais pra já ter experiência. Mas mudei esse conceito quando meu médico homeopata, que digamos é um pouco mais espiritual que os outros me disse em uma das consultas em que eu estava ansiosamente aflita, mexendo o pé pra lá e pra cá, querendo contar milhares de coisas em duas frases pra que coubessem no tempo curto: – o lóbulo da sua orelha tem um formato peculiar. Você foi feliz em outra vida.
Quer dizer então que além de eu ter tido outra vida, eu fui feliz nela. Coisa que me parece meio complicado de entender tendo em vista essa fase sem-sal sem-açucar em que me encontro no momento. E que coisa é essa de felicidade, ser feliz e etc? Ninguém é totalmente. Ninguém. E quem disser que é está mentindo. E pra piorar meu lóbulo tem um formato peculiar(?). E que tipo de coisa é essa de ver vidas por lóbulo de orelha? Vai entender. Mas eu tive outra. Ele disse e eu acreditei.
Fiquei horas pensando nisso hoje à tarde. Eu não acredito muito nessas coisas de outra vida, cosmos, energias misteriosas, ou outra parafernalha-qualquer que não faz a mínima diferença pra ninguém. Pra falar verdade em energia em até que acredito. O bastante para eu querer entrar urgentemente na yoga para equilibrar as energias internas. Mas isso passa, juro que passa. É só reflexo da minha fase atual de tpm sem estar na tpm. Vai passar.
Passei o dia todo pensando nisso. Que diabos eu fui nas outras vidas? Um gato talvez. Eu ia gostar de ter sido gato. Mas acho que vou deixar isso pra minha próxima. Cachorro não, eu gosto mas não pra me ser. Passarinho então, de jeito nenhum. Mania chata essa de voar nas pessoas. Insetos e o filo artrópoda de modo geral nem pensar. Tenho asco de tudo o que voa e faz aquele barulhinho inusitado quando é pisado – crac – Esse mesmo. Não é a toa que eu tive arrepios da cabeça aos pés lendo paixão segundo G.H. Clarice que me desculpe, mas esse não me deu. Morria a cada linha. Realidade é amarga demais sabes?! Sei que sim.
Voltando ao ponto inicial, passei o dia todo pensando o que fui eu em vida passada. Número um: Tinha que ser feliz. Isso é difícil. Ainda mais pra mim. Dorzinha, dorzinha... Se eu não gostasse tão sufocadamente, acho que ia começar a fingir de tão colorida-dolorida que ela me parece. Acho que só o número um me basta. Na verdade me basta porque não me veio nada além dele em mente. Mas pensando bem, quer coisa mais complicada nessa vida do que isso? O poetinha vagabundo já dizia “É melhor viver do que ser feliz”. E se ele já não tivesse dito, um dia com certeza eu ia dizer. Se eu tive vida passada, logo eu vivi duas vezes. A passada e essa. E fui feliz em uma só, na primeira suponho. Nada mais justo. Não é a toa que o peso do sobrenome ficou pra essa. E que peso.
A questão é que eu tive um insight. A questão não, a resposta da questão. Flor. Claro! Não querendo contar vantagem ou algo assim, e quem entende de flor vai me entender também, mas eu fui flor. Não tenho a mínima dúvida disso. Flor. Não me pergunte que flor, porque aí você já está querendo demais. Isso até passou pela minha cabeça. Sobre o tipo de flor eu digo. Margarida talvez. Lírio de jeito nenhum. Lírio é a minha flor preferida, mas eu não vou me enganar achando que fui lírio. Não fui e pronto. Rosa talvez. Daquelas bem altas. R0sa-cor-de-rosa. Não. Muito rosa pra mim. Acho as vezes que eu tenha sido uma flor de erva-daninha, daquelas que se agarram à beleza de todas as outras coisas para se sentir grande, graaande, graaaaaaaaaaaaaaaaande, e quando você menos espera tomou conta do jardim todo. Estava quase certa de que eu era essa. Mas não, felicidade não é isso. Não só isso.
O nome da flor talvez seja o que menos importa. As flores são pessoinhas maravilhosas e de uma pureza inigualável. Elas sentem dor como nós sabiam? Sentem sim. Sentem dor por elas, pelo jardim e pelo mundo todo. Se doem inteirinhas. É por isso que às vezes elas murcham e às vezes se enchem de vida. Não se engane achando que é no murchar que mora a dor. Muitas vezes é no se encher de vida. Isso dói. Dói, dói.

Fico feliz de ter sido flor-sem-nome em outra vida ou qualquer que seja o nome disso. Mas uma coisa ficou errada na história. As flores são felizes e infelizes ao mesmo tempo. Porque são solitárias. E as pessoas solitárias são assim. De qualquer forma, fui flor. Não inteiramente feliz, mas fui. Quer coisa mais bonita nessa vida (ou em outras) do que ser flor? Qualquer que seja. Fui. Tenho certeza. Não achem que eu estou louca, por favor. E nem duvidem da minha essência já vivida. Fui flor e ninguém tira isso de mim. Nem você, nem você e nem você. Pensando bem, talvez eu seja flor nessa vida também. Vai saber.
Só sei que hoje o dia está em um cinza terrivelmente ardido, quase insuportável, e não poderia existir dia melhor para isso. Para viver isso.
Com todo esse papo de flor, não sei se o cheiro que sinto agora é das margaridas brancas que estão em cima da mesa ou de mim. É que o jardim cresceu em mim de um jeito tão imensurável que eu deixei de observar o jardim e passei a ser o jardim. Ser já, jardim. Cheinha daquele colorido-dolorido que eu adoro. Flor na outra vida, jardim nessa. É isso.

Só me resta dizer agora, que te vejo em outra vida. Quando formos gatos.





L.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

...

quando não planejo acontece
quando me arrumo não saio
e quando saio não acho
e se não acho já não procuro
mas quando não procuro me encontras
e quando me encontras é que eu me perco
e se só me perco quando me encontras, já não me entendes.
daí é quando me explico,
te explico...
até cansar de ter hora pra tudo
de ter medo de ofender
de tentar te esquecer
de procurar não te querer
e de ter sempre o que dizer.

S.

terça-feira, 22 de maio de 2007

.

Aquelas luzes comuns em prostíbulos, reluziam as orgias da festa que fui te buscar, seu cabelo todo molhado e bagunçado, seu corpo cheirando a sexo e seu nariz escorrendo de tanta coisa que deve ter entrado por lá. Mesmo assim, mesmo não (te) querendo, enxerguei todas as imperfeições perfeitas de quem é digna de acordar na minha cama. Mesmo nesse seu estado assustador e tão comum, meu corpo cheirando a perfume francês desejava o seu exalando traição. Te coloquei no carro enquanto aqueles que tinham te comido a noite inteira riam da minha cara, liguei o rádio e estava bem naquela estação universitária que tocava os melhores jazz de todos os tempos, sabia que você iria gostar. Sua cabeça continuava batendo no vidro do carro a cada curva e seus berros acordavam o bairro inteiro. Cheguei em casa, acendi as luzes, abri a porta do banheiro, deixei você encostada ali naquela parede decorada, toda colorida, que a cada banho um novo desenho alguém descobria. Liguei o chuveiro e fui tirando sua roupa, em um misto de mãe e mulher. Curti cada pedaço do seu corpo e te usei, como uma peça barata que você costumava se apresentar. Subi as escadas, peguei os lençóis mais brancos e toalhas novas. Enxuguei seu cabelo, escovei seus dentes com aquela esova com motorzinho, a pasta doce que cheira a remédio e deixei a luz do espelho ligada. Você hesitava cada toque, tive que ir escorando na parede do corredor até chegar no quarto. Te vesti uma camisa que meu pai tinha esquecido em casa (ele sempre se suja comendo!), e admirei cada milímetro dessa mulher desprezível que você insiste ser.
A hora que você acordou daquele "sonho" que com certeza não irá lembrar, ali em cima daquele criado que se não fosse mudo seria meu inimigo, estavam as panquecas americanas, o café que tinha acabado de passar, o morango com mel, o chocolate suíço e as amêndoas que você tanto adora. A hora que aparecei na porta ouvi milhares de desculpas e com um leve beijo esclareci o bom-dia que ali começava. Fizemos sexo com gosto de café misturado com ressaca e manhã.
Tive que faltar ao almoço de domingo na casa dos meus pais, porque até minha avó sentada na ponta da mesa perceberia os olhares transbordando desejo. Atrás da porta do banheiro do restaurante ninguém imaginária que aquela menina de saia rodada e sapatinho de boneca estava com as pernas abertas em cima daquela mulher de vestido e franjinha angelical. Uma só menina-mulher.


A.

domingo, 20 de maio de 2007

A morte;

... nunca esteve tanto na minha cabeça como nos dias frios e chuvosos que eu enfrento aqui. Nunca pensei tanto em fazer surpresas boas para os meus amigos, como nos dias, por agora. Nunca desviei um olhar seu, sempre te encarei, olho-no-olho, como fiz hoje. Nunca neguei um "vamos sair" como o de há dez minutos atrás.
Agora vejo a falta que as gotas secas fizeram quando resolveram não me molhar. Fugi.
Eu sinto aqui, saudade das suas tentativas de me fazer feliz por apenas duas, ou até mesmo três horas.
Tenho medo e anseio. Palavras que nunca foram adjetivos da minha vida.
Começo aqui e logo termino ali...

... outra vez eu pude sentir meus lábios secos e frios, salivando de angústia.



D.

sábado, 19 de maio de 2007

Me dá os seus olhos e entra dentro de mim.
Mas só com o corpo, para não doer demais.
Você não suportaria a dor de mim.
Me dá o seu coração, mas não exija o meu.
É espada só para Rei Arthur.
E esses tempos já foram há muito.
Me deixa ser Don Juan Demarco.
Que eu só marco, mas não demarco.
Sou só o limite.
Fora, é livre. Voe.
Voe porque a arte te(me) permite.
Venha me ser arte e só não esqueça
que o preto esconde o branco,
mas não vice-versa.

N.

Amargo-doce

E até seu suor parecia doce na noite em que nossos olhares se encararam pela primeira vez;

L.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

would if i could

esse samba não é seu e é por isso que eu não vou cantar, e se não canto é justamente pra ninguém ouvir. além do mais eu não canto e não danço, não ligo no dia seguinte nem espero resposta, não alimento falsas esperanças e não peço mais desculpa. além é claro de sempre querer nada com nada.

isso lá são horas de me ligar? sim, isso tem importância. meu cigarro tá aceso e eu sei que você não fuma, meu vinho tá derramado por toda parte e eu sei que isso é o que você condena, tem gente na sala mas os que me visitam não te fazem rir e olha que não vou nem entrar em detalhes e falar sobre os meus porquês, só para você não se enfurecer de novo com a minha postura mundana.

então por que veio? então por que você aparece assim se não fuma o meu cigarro nem bebe do meu copo? por que veio se nem faz questão de rir com quem chegou aqui bem antes e se você já não se interessa pelo meu desassossego? por que? pode me dizer?

nunca pedi pra que comprasse as minhas brigas ou pra que pulasse no meu lugar. o problema não era o vento, muito menos meu olhar sondador. se quer saber, já não venta tanto assim e nem gana de ficar olhando eu tenho. o problema é que não era assim desse seu jeito que as coisas aconteciam, e não era assim que eu disse que poderia ser.

então foi tudo engano? caso do acaso, vaso raso? então tá bem, ou melhor, ainda bem.
já estava mesmo na hora, eu só estava esperando você terminar de me condenar para eu poder dormir em paz.

ah e falando em hora acho que deu a sua, sinto que é tarde, já é bem tarde pra mim.
mais tarde ainda pra você.

S.

soneto sobre cheio de grama

hoje as coisas aqui estão bem tensas. talvez você nem saiba onde diabos seja "aqui". e é assim, tão assim, que as coisas acontecem entre dois. é tão assim que sinto. e sinto muito. distante como se fizesse tão e não parte, como se de dois só pudesse esperar nada. ou como um abraço gêmeo que voa longe como pipa em campo. que voa longe com o vento. e vai fugindo, voando, tão leve, tão pássaro. continua fugindo, rodopia e rodopia. e frouxa de rir, sem saber até que ponto vou aguentar, sem saber quando vai chegar a hora de cair na grama macia, cheira de ternura e rir e rir e rir e rir e rir, vou correndo. e depois de tanto, noto a pipa caindo, mansinha como o vento, silenciosa e branda como bruma, beirar a rodovia. olho para os lados e vejo que estou sozinha e de repente, como quem acaba de perceber uma formiga no meio do calçadão, percebo o meu riso fazer-se pranto. abraço o chão, a terra e qualquer coisa que possa relar, pegar, qualquer coisa sólida que me faça acreditar viva. qualquer coisa que sinta tocar minha pele e que me faça saber que ainda tenho sistema nervoso e tato. noto a nostalgia da grama verde, tão verde que reflete o sol, que quase reflete a lua. tão, mas tão verde que chega a ser densa, tensa, suspensa. quase preto-e-branco, tons de cinza. e da calma fez-se o vento e da urgência um furacão. me dá sua mão, meu amor. não tenha medo não –eu disse fingindo que não tenho- vem olhar o mundo aqui fora, olha como a grama é verde, tão verdinha, tão sua. joga seu corpo no mundo, vai sendo como pode, te amo em cada canto seu, me da sua mão, pô! e assim, sem saber quem deu a mão pra quem, a gente foi andando, tocados lá dentro pela vida preto-e-branco que vira cor passo a passo –como filme bobo numa tarde com pipoca.

eu velhinha vestida com rugas. um amor de bengala que insiste. netinhos correndo pela casa –um retrato que não existe. então se não existe, invento. sento no banquinho alto com dificuldade para equilibrar por causa da artrite, posiciono o cavalete e pinto. vou pintando, cantando e pintando e cantando. como fotografias instantâneas da felicidade, lembro de como era, sem talvez nem ter sido. e mesmo que tenha soltado a minha mão eu ainda seguro a sua. mexo nos seus dedos como sei que bem gosta, me apegando a cada picuinha, decorando cada detalhezinho. aprendendo de cor, com o coração. decoro os dedos com coisinhas artesanais, com anéis de mentirinha e continuo correndo atrás da pipa, correndo, correndo. vou perdendo partes de mim, sem saber se vale, sem saber se devo, sem saber. vou correndo e me jogando na vida, enquanto perco partes de mim, enquanto já me perdi inteira. e continuo correndo sem saber porque corro. e a vida, e a pipa, sem saber porque fogem. e de repente de um quadro, de um retrato, de um momento imóvel fez-se o drama. e das mãos empalmadas fez-se o espanto –como o susto de línguas que se encontram pela primeira vez. e que se encontraram pela última. e de repente, não mais que de repente das bocas unidas fez-se a espuma e quase o vômito.

F.

Quase me perdi por um minuto

Olha eu brincando de suicida outra vez, subindo até o ultimo andar só pra olhar a paisagem que me dá náuseas mas que ao mesmo tempo me causa um fascínio inexplicável.

Olha eu gozando dos loucos e entrando pela porta da frente do pior dos manicômios.

Olha eu, brincando com fogo sem querer me queimar e tendo aquelas vontades estranhas de dias muito normais.

Será que as crises são só minhas? As indagações e os anseios só meus?
A frase não dita, o cigarro pela metade e todas aquelas coisas que hesitam entre um olhar e outro são frutos das minha imaginação transgredida? Ou não?

Já me entreguei a meditação melancólica das minhas faltas e exageros, não entendo esse meu fascínio pela confusão, muito menos minha atração pelas coisas que eu viavelmente não posso ter.

Logo eu que sempre fui dois pra frente, um pra trás e meio pro lado estou dando voltas e mais voltas nesse círculo vicioso que eu me nego a sair.

S.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Não sei

se eu pergunto como você está, se o colégio ainda te enxe o saco, se seu pai anda daquele jeito, se parou de roer a unha, se a giovana ainda tem que fazer teatro, se o viva-voz parou de ser usado, como está a peça de teatro, qual filme viu essa semana, se tem usado muito roxo, se continua olhando a lua, se realmente parou de fumar, se seu olho voltou a coçar, se tem ouvido o sino da igreja, se limpou a baba do canto da boca, se o orkut te estressou, se o msn saiu de linha ou se seu nick que mudouu, se as ruas tem passado rápidas demais, se esqueceu de me telefonar ou se o telefone perdeu a linha, se o bosque foi desviado do nosso caminho ou se ainda têm passado por lá, se as notas continuam as mesmas, se o arco-irís ainda é maior que o mar, se ainda tem visto borboletas, se tem estudado filosofia, se o batuque parou de tocar, se sua bolsa já perdeu a fivela, se o relógio continua à girar, se o nosso mundo parece triste ou se sou eu que não sabe voar, se a grama continua molhada, se às gotas de àlcool tem buscado se afastar, se o sorvete ainda continua uva, se o dedé continua valente, se meus olhos continuam crêntes, se você ainda tem um bom paladar, se os calos ainda estão nos dedos ou se você já mudou de lugar, se as luzes continuam as mesmas, se ainda é ímpar, se voltou a flertar, se está enlouquecido com o blog ou se é a erva que te fez rodar, se ainda vive no mundo dos sonhos, se tem acendido velas nos cantos, se tem visto nosso cacto secreto ou tem tomado o mesmo café tradicional, se tem plantado muita semente, se o gosto de sangue já saiu da gente, se algum dente anda doendo, se o intervalo demora a passar, se as músicas tem feito você pensar, se foi meu jeito que mudou a gente, se a perna de pau tá demorando pra quebrar, se teu olhar continua dormente junto com teu piscar-sonhar, se o nariz tem soado bastante, se parou com aquela cara de malandro, se tem trabalhado com fome, se fica chateado com o ônibus, se seu apelido mudou, se o disco riscou, se o esmalte acabou, se o sonho parou de escorrer, se a barriga tem roncado até doer, se ainda acorda assustado, se o dia ontem foi todinho nublado, se os pássaros tem te cagado, se seu ouvido tá todo estourado, se seu verde continua froxo, se o vento continua gelado, se o acento mudou de lugar, se já aprendeu a arrotar, se cortou o cabelo por tédio, se tem tomado muito remédio, se tem se apaixonado muito ou se o inverno te fez esfriar, se a saudade anda apertando, se você tem que custar pra lembrar, se o ritmo continua lento, se tem se jogado pra qualquer lado, se o alecrin ainda brota no peito, se o amor ainda tem jeito, se a viagem mudou de andar, se a escada continua difícil, se aquele bandido mudou de edíficil, se a tímidez já voltou a falar, se o dedo continua estalando, estralando ou cutucando, se você continua me amando e se tem pensado no fim...

Eu quero, mas não sei como.


C.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Era

uma vez o sorriso que trocávamos, e a aura amiga que nos cuidava.
Me lavava EM ti, no teu rio.
Nele respirava e nadava, dele bebia e nele mergulhei.

Nele me afogaste,

e tudo que era pra ter existido em perfumes e cores, agora existe em pó, pra coçar meu nariz.
Os elos já se foram, mesmo sem nunca haverem sido.


Agora, me lavo DE ti.


Ouça isso, pois, se te toco, é a ultima vez que o faço.




G.

domingo, 13 de maio de 2007

Perfume.

Eu sempre tento, mas nunca consigo.
Estou vazio e farto de vontade para ir além, de mim e de tudo.
Mas não dá, eu sempre travo, eu sempre fico sem palavras.
Eu não entendo às vezes, me esforço e logo vejo que é muito grande, é muita vida.
Queria entender e não ligar, mas é impossível deixar isso passar assim, sem nunca conseguir escrever, sem nunca tentar transpor o que se passa aqui dentro.
Dentro de um peito fraco, podre, completamente branco. Puro e leve.
Eu não tenho mais força, nem esperança, e isso tudo aqui, me ergue, me deixa do tamanho do infinito. Não o meu infinito particular, aquele mesmo infinito que nós sonhamos, é, esse mesmo infinito que nos esconde.
Que não nos deixa só. Que sempre nos deixa com a boca seca, com as pernas bamba e com um sorriso estampado-na-cara.
É alívio, é nosso.
Pequeno.
Grande.
Dispara o coração e nos segura contra o vento. Que sopra forte, sem direção. Que bate em nossos rostos e nos deixa com cara de vida.


Essa nossa vida, amiga da arte, parte que o sol nos ensinou.



D.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Vinho - inho - inho.

Então eu fui na adega comprar vinho, cheguei lá e pedi um daqueles grandes de cinco litros, mãno, eu não tinha dinheiro, faltaram três reais, daí peguei o de 4 pila mesmo.

Um maluco pediu 1 reals pra mim, não tinha, dei 50 centavos e ele disse que eu poderia pegar limão a vontade mas não tudo porque eu não dei 1 reals. Limão bom sabe, limão rosa, daqueles de fazer limonada, daqueles de temperar a salada, daqueles bem feios de olhar e dar dó.

Eu peguei, nunca faço isso mas hoje eu fiz, sempre tenho vontade mas nunca faço. Bah, foda-se, eu comprei limão de um desconhecido e daí?
Depois disso eu agradeci, me despedi do dono do estabelecimento e do tio que me vendeu limão, peguei minha sacola com doce e azedo e já fui saindo como quem sai de um wc depois de um longo xixi desesperado. Me senti meio estranha por estar tão longe de casa comprando vinho ao meio dia. Mas parei, pensei, observei minhas aquisições e então tudo fez sentido.

Eu já não era mais uma garotinha mimada atrás de um hábito que a gente apelida de vício, eu era aquela que comprou limão as doze horas do dia 11, aquela que pediu desconto e que viu a confusão nos olhos de um estranho que não estava em casa para beber no bar e que ao se deparar com a minha figura escolhendo os "limão" não entendeu mais nada. Ou não. Ou eu entendi tudo errado e não foi nada disso, e eu simplesmente fiz o que tinha que fazer e nada disso foi sublime suficiente a ponto de ser digno de ser relatado.


Mas se você acha que poesia é métrica, então entra na fila e aproveita pra comprar coquinho, e se não tiver pode comprar algum limão que eu garanto que é do bão.

S.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Carta secreta para uma mulher ausente

Vai, entrega pra ela esse sorriso meu. Não esquece de dizer que sinto saudades, e que demoro pra deixar de pensar em tudo o que foi. Mas explique que talvez o melhor que acontece é o não acontecer das coisas. Diz pra ela que o que não acontece é lindo!
Diz tambem que se não quer lembrar-se de mim, é melhor que fique longe das paredes, porque estou em todas elas, escorrido, atento, gritando meus segredos mais bonitos, e que meu segredo ainda é aquele que não existe.
Não esqueça de dizer que sinto muitas saudades, e que tenho medo de minhas gavetas. De encontrar nelas o motivo para o suicído, para a venda barata da minha alma para o capeta, para mais um amor, para mais uma saudade sem fim. Diga à ela que ainda acho lindos os fins, e que acho bonito matar o que já não é vida, só que ainda acho belo saber andar nos meios-termos. Mas que estou com tanta saudade que nem sei o que ando dizendo. Diz pra ela que ainda tenho uma cachoeira de histórias para os ouvidos dela, e que ainda sei de seus amores.
Mas diga que estou com saudades, principalmente dos beijos mais puros, e da sinceridade mais subentendida. Diz tambem que sinto falta daquela nossa rebeldia de butequim, daquela revolução secreta, do nosso humor misterioso de Monalisa. Diz que já me lembro o que é loucura, e que peço desculpas com frequencia ainda. Peça desculpas por isso, mas diga que o peso das coisas é bom, massageia com dor. E diz que tenho saudade do sabor daquela dor, insuportavelmente bela. E que não aguento mais as homenagens secretas que ficam sem seu ar.
Peça pra que ela venha me curar dessa epidemia que começa a se espalhar por tudo: sua ausência.


G.

Seu nome é Volúvel Leviano.

Tem dias que eu acordo e sei de tudo, outros já não sei de mais nada.
Minhas certezas desmoronam a todo instante, se desmancham cada vez que o vento sopra, muda de direção e leva meus pensamentos, minhas angústias e minhas alegrias.

Venta e bagunça o que demorei pra arrumar, venta e arruma o que demorei pra bagunçar, venta e eu fico parada vendo pra onde a fumaça vai ir, venta e eu já sei que alguma coisa vai sair do lugar, e já não sei se fecho a porta ou abro pra ventilar.

Quem anda na rua tropeça com meus restos perdidos por aí. Quem anda na rua em um dia
ensolarado de outono, quem acha lindo todo contraste e toda menina com cabelos desgrenhados mal sabe que o vento é maldito, mal sabe que ele veio pra já ir embora. E é por isso que nossa relação sempre foi de amor e ódio, nos dias que eu o amo eu não poderia ser mais feliz, mas nos dias que ele resolve brincar eu não entendo porque sou assim.

Sempre quis ter os pés no chão pra deixar a cabeça e o coração irem aonde quisessem ir.
Pois é, eles foram e até agora não voltaram... E eu espero com aquele falso moralismo de uma noiva aflita que tem medo olhar pro lado e mudar de rumo. Espero a boa vontade de quem pode trazer de volta o que um dia com um vendaval me tiraram.

Minha única alegria é saber que da mesma maneira que foram, voltam, sempre voltam, com outra ventania inoportuna que eu adoro.

S.

domingo, 6 de maio de 2007

Entre minhas paredes

Hoje quando você ensopou meu banheiro, e fiz de conta que estava brava, percebi que gosto quando você não presta atenção se a pasta de dente acabou. Percebi que às vezes quando está frio, você nem liga de não usar nada do meu mini-cobertor.
Eu te olhava com ar de menininha apaixonada, e você sorria pra mim como se pedisse café. Um cigarro. Só pra disfarçar o quanto é tímido. Percebi o quanto nos dias em que não te vejo me dá saudade do seu desastre com as coisas ao redor e do seu apavoramento quando não estou prestando atenção no trânsito.
Quando eu fico o dia inteiro assistindo televisão na minha sala cheia de plantas engraçadas e espalhadas, eu lembro de você que de vez em quando pergunta se eu as deixo tomarem sol certinho, e se eu tenho limpado a água do peixe.
Percebi que é totalmente sem graça meu quarto escuro sem seus discos antigos com suas bandas ritmadas. E que é muito chato não ter você para não entender quando minha roupa está bonita ou não.
Continuava você ali, deixando a tampa da minha privada aberta, com o vidro todo espumado, me enchendo de perguntas bobas sobre o por que da minha mania de arrumar o banheiro toda hora. Me combrindo de elogios quando estou de calcinha branca e camiseta. Amo quando sua mão parece enorme, deslizando no meu corpo.
Te abracei como se você estivesse se declarado. Eu, a pessoa mais feliz do mundo te abraçando tão forte, tão forte, e você não entendendo nada. Meus olhos piscavam devagar enquanto você dava uma risada gostosa perguntando se eu tava bem. Depois de me dar mil estalos de beijos, daqueles que eu mais gosto, que arrepia o pescoço. Babei vendo você fazer aquele café nem doce, nem muito amargo e preparando umas torradas caseiras com orégano dourado.
Eu fixei meu olhar em cada movimento seu assimilando todos em um filme antigo que passava na minha cabeça. Um filme nosso, dos nossos dias, dos nossos momentos cheios de notas musicais.
Lembrei daquele dia em que você desceu correndo na farmácia perguntando sobre remédio de dor de ouvido, colocando até uma trilha sonora no carro pra acomodar minha dor e beijando minha orelha só para dor passar. Lembrei do dia em que você me trouxe bombom e me convidou pra ver a lua lá de cima, perto das estrelas. Ouvi nossas risadas bêbadas de vinho, aquele que deixou sua boca roxa, e que a cada risada sua eu te machucava de tanto morder. Senti seu moletom enorme me aquecendo, com nosso rock no fone de ouvido gravando nossos pensamentos iguais.
Percebi que gosto dos seus dedos macios encaixando nos meus. Me tocando pesado e ao mesmo tempo eu nem sentindo. Entre mil abraços quentes, tortos e aconchegantes que você me deu eu não mudaria nenhum. Nem um segundo a mais.
Talvez você tenha me olhado de novo daquele jeito, timído, com vergonha dos meus olhos brilharem tanto enquanto você morre de medo de encarar uma coisa que pode te levar para outro lugar.


C.

terça-feira, 1 de maio de 2007

vazio



C.