segunda-feira, 26 de março de 2007

Dentro da cabine

O calor tomava conta daquela festa. Beijos por todos os cantos. Pessoas em todos os cantos bêbadas, sozinhas e acompanhadas. Mais acompanhadas do que sozinhas. Dentro do banheiro o som ficava abafado, e eram poucas pessoas que de vez em quando apareciam por lá. A música ali, era outra. Soava o tremido vindo de fora, algumas descargas, pessoas lavando as mãos, trocando palavras, poucas palavras. E uma batida repetitiva de ‘tum-tum’ dentro de uma cabine.
Era de se escutar o fôlego faltando, e os suspiros fortemente agudos iam tomando conta daquele território. Se pudesse, tinha levado uma pipoca e não tirava os olhos daquela porta se movimentando, e os pés, avistados por de baixo da cabine. Um all star preto sujo e outro azul na ponta dos pés. Como nos filmes. Como nos sonhos.
Os olhos se fechavam como se não houvesse mais ninguém no mundo, como pétalas caindo nesse outono quase frio. O suor descia, escorria a testa, e molhava sutilmente entre os seios e as costas. Os olhos se olharam fundo. Um sorriso foi lançado e não foi preciso mais que isso.
Os dedos despiam-se tudo como se ouvisse jazz, e os lábios encaixavam em cada pele descoberta. Em cada pinta descoberta. As borboletas navegavam em busca de uma nova descoberta, e as cores tonificavam cada parte intima agora atingida. Agora mostrada. Os cabelos à cada segundo mais úmidos e os movimentos se encaixando. Se ofegando. Se juntando.
Até que os lábios se tocaram sutilmente, e as mãos desceram e subiram fazendo movimentos leves e macios pelos corpos nus.
Não foi preciso mais que um olhar, mais que uma batida, mais do que aquela música.
Não foi preciso acelerar mais que isso, porque o tempo congelou cada traço, cada movimento, cada sensação e não há aceleramento nenhum, que desfaça e que derreta essa lembrança. E aquele sabor.
Tudo podia terminar ali. E terminou.




C.

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