quarta-feira, 6 de junho de 2007

esqueci os cálculos de novo

O receio de ver todo mundo me olhando, me encarando, me deduzindo - em formas que pelos olhos eu ainda não sei entender - era constante, e minhas mãos geladas do frio, suadas pelo nervoso, não parava de mexer no bolso da minha calça jeans velha. Meus pés cansaram de tanto bater, e de contrair os dedos dentro dos tênis limpos que usei só para a ocasião.
Meus dentes rangeram eternos intercalando com minha língua que não parava um só segundo, meu coração pulsava junto com os barulhos dos carros na rua - que a essa altura do campeonato, eu nem escutava mais - pensei na minha família, no meu objetivo de estar ali e no meu destino depois disso.
E todo mundo não parava de me olhar enquanto eu gaguejava e entortava palavras falhadas com os olhos quase embaçados de lágrimas. Um ritmo acelerado veio ao meu ouvido acompanhado por um "pííííííí" que me doloriu até franzir a testa, até tremer os lábios.
Me arrepiei inteira de medo, de ansiedade. Sentia a física quântica fazer efeito no meu cérebro e esqueci de qualquer Deus que existia dentro de mim por alguns segundos. Pensei que podia ser pecado não acreditar em alguma coisa suprema assim, e decidi esquecer os cálculos e voltar minha vida remota de castidade inversamente mentirosa.
O inverso da mentira, é a verdade - lembrei em pensamento - desfiz todos os meus pensamentos e refiz tudo de novo sem nem perceber. Até que os olhares me engoliram novamente junto com sorrisos traiçoeiros, cheios de maldade. Quando senti uma pontada no peito, e uma tontura me dominando segurei uma mão com a outra apertando até roxiar meus punhos.
Levantei, pedi licença e com o coração na boca, saí de cena novamente.

C.

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