segunda-feira, 4 de junho de 2007

Um parágrafo para alguém

Olhei pela janela e os carros passavam quase voando, ouvia barulho de buzinas e freadas fortes assustavam os pedestres que caminhavam longe, uns devagar outros completamente apressados, como o tempo que passava no meu relógio de pulso novo. O sol brilhava feito olhos que acabava de chorar, e o céu limpo trazia lembrança de algum carnaval fora de época, meio rosa, meio roxo, com tons lilases e tons púrpura levemente visíveis. Batia um vento gelado que era rapidamente esquentado pelos raios que vinham bem na minha direção queimando, me torrando a pele, cegando meus olhos e entorpecendo minha mente. Ouvi gritos de algum lado, me senti incomodada como se alguém estivesse me vigiando de algum canto. Fechei os olhos mais de uma vez, bocejei até meus olhos lacrimejarem, e voltei-me para trás, no meu quarto sombrio e quieto para uma segunda-feira agitada. Coloquei uma música alta, até que minha companheira de apartamento bater na minha porta para reclamar do barulho. Fingi diminuir, e continuei ali pensando no que fazer nesse dia cheio de coisas, mas sem nenhuma vontade. Abri o guarda-roupa não sei por que e fiquei minutos pensando em uma roupa para vestir, eu podia até pensar em andar a cidade toda, pensei em Curitiba, quis estar andando pela sete de abril, entrando no passado e sentindo o frio juntando com o sol, e mais tarde virar neblina, mas não quis sonhar demais, só queria me sentir bonita, como a tempos ninguém me via. Escolhi uma bem quentinha e neutra - como andava ultimamente - mudei de música, escovei meus dentes e a estranha sensação de alguém estar me vigiando ainda não havia passado. Coloquei meu all star azul velho já sem uma estrela do lado, peguei meu maço de cigarros e uma buzina de ônibus gritou pela cidade inteira. Corri e apareci na janela, e ao meio da multidão avistei você sorrindo por ter acabar de bater uma Combi de bolinhas brancas na traseira de um ônibus vermelho. Fechei os olhos devagar e desci como se nada tivesse visto só para você me contar do mesmo jeito que me contou em maio de uns anos atrás.


C.

Um comentário:

Anônimo disse...

"entrando no passado e sentindo o frio juntando com o sol, e mais tarde virar neblina, mas não quis sonhar demais, só queria me sentir bonita"

as vezes você é tão você, que me perco no meu eu, só de raiva.