quarta-feira, 4 de abril de 2007

Trancafiança

O duro desses meus pensamentos nublados e quietos, é que dentro de mim eu me fecho. Crio barreiras. Me torno invisível.
Para mim não adianta mais fechar os olhos com força, fazendo pensamento para que tudo volte ao normal. Não, não adianta mais. Meus pés não saem mais do chão com tanta facilidade. Eu não voou. Eu não flutuo mais dentro do mar-de-rosas-lilases-com-cheiro-de-purpurinas-brilhantes.
Me afoguei depois de um dia cansativo de tristezas no meu quarto escuro, fechando a porta para o mundo. Joguei minhas dores nas almofadas e junto delas saíram algumas lágrimas involuntárias. Eu adormeci em um sono fundo e pesado, sonhei com coisas inexplicáveis e acordei sorrindo.
Depois desse dia cansativo de tristezas, eu passei a todos os dias ter dias iguais. E dia após dia fui enferrujando meus lábios de álcool, enferrujando meu sorrido avassalador, enferrujando meus olhos-com-brilho-de-quero-mais, enferrujando meu jeito e o meu não-jeito. Não dei conta de mim, e agora vi o tanto estou perdida. Com medo até da chuva que pode cair lá fora e que à tempo não vejo. E que à tempo não saboreio.
As músicas não fazem mais sentido algum. Nenhum som ecoa nos meus ouvidos dançando. Nenhuma borboleta colorida samba em passos firmes dentro de mim. Nenhum gosto doce vem a minha boca quando lembro de alguém.
Ouvi dizer que quando não se suporta mais o cheiro, o amor também não suporta mais nada. E foi exatamente assim comigo.
Não me fiz forte o suficiente para que minhas narinas respirassem aquele cheiro-forte-azedo-enjoativo-e-obscuro, e me afoguei em um jogo chamado quebra-cabeça-do-adeus. E com o passar dos dias, eu aqui, trancafiada dentro do meu quarto vago, cheio de promessas para o futuro que não existe, cheio de fotos antigas carregadas de saudade vazia, cheio de mofo limpo com gosto de chuva ácida, cheio de dores compostas, cheio de roupas coloridas para um dia chamado nunca mais. Cheia de tempestades de sol no escuro.
E completamente ou incompletamente cheia-desses-dias-sem-amor.




C.

2 comentários:

Anônimo disse...

é, aquela que sempre brincou com a sorte mas nunca conheceu o azar já não joga os dados como antes.

Anônimo disse...

Abra a janela,vai ser sempre lindo lá fora.
E quando fechar, lembre-se de que a decoração lá de dentro é você quem faz.