quinta-feira, 19 de abril de 2007

O universo resolveu sorrir de lábios vermelhos; eu chamei de Lua.

Chamei a vida e sua canção silenciosa de inferno, de mal, agonia, de não. Esqueci do vento, da joaninha em meu estômago, dos olhos de Carolina. Blasfemei à poesia, a chamei de algema, cuspi de nojo, limpei-me de versos como quem limpa o catarro de uma gripe. Desviei os olhos das cores, do cheiro fresco da pele da menina do Vininha. Não pulei as sete ondas do sorriso de André. Não me reconheci nos abraços de quem amo. Fechei meus lábios, esqueci-me de seu doce, de seu agridoce. Fiz da minha confortável amargura, um pedestal. Emoldurei-me com uma moldura ideal, e, prostrado diante de um altar ao passado, adorei quem não sou mais, como quem monta a velha árvore de Natal empoeirada, e nela pendura bolas cintilantes, foscamente cintilantes. Me chamei de ilusão, e fechei os olhos. Evitei sonhar.

Mas acordei, e do velho retrato vou arrancar as molduras, e logo as cores da paisagem escorrerão pelas paredes, colorindo, colorido como são os dias que não mais passarão sem cor.








G.

Um comentário:

Anônimo disse...

gritei até minha mão ficar roxa.