domingo, 6 de maio de 2007

Entre minhas paredes

Hoje quando você ensopou meu banheiro, e fiz de conta que estava brava, percebi que gosto quando você não presta atenção se a pasta de dente acabou. Percebi que às vezes quando está frio, você nem liga de não usar nada do meu mini-cobertor.
Eu te olhava com ar de menininha apaixonada, e você sorria pra mim como se pedisse café. Um cigarro. Só pra disfarçar o quanto é tímido. Percebi o quanto nos dias em que não te vejo me dá saudade do seu desastre com as coisas ao redor e do seu apavoramento quando não estou prestando atenção no trânsito.
Quando eu fico o dia inteiro assistindo televisão na minha sala cheia de plantas engraçadas e espalhadas, eu lembro de você que de vez em quando pergunta se eu as deixo tomarem sol certinho, e se eu tenho limpado a água do peixe.
Percebi que é totalmente sem graça meu quarto escuro sem seus discos antigos com suas bandas ritmadas. E que é muito chato não ter você para não entender quando minha roupa está bonita ou não.
Continuava você ali, deixando a tampa da minha privada aberta, com o vidro todo espumado, me enchendo de perguntas bobas sobre o por que da minha mania de arrumar o banheiro toda hora. Me combrindo de elogios quando estou de calcinha branca e camiseta. Amo quando sua mão parece enorme, deslizando no meu corpo.
Te abracei como se você estivesse se declarado. Eu, a pessoa mais feliz do mundo te abraçando tão forte, tão forte, e você não entendendo nada. Meus olhos piscavam devagar enquanto você dava uma risada gostosa perguntando se eu tava bem. Depois de me dar mil estalos de beijos, daqueles que eu mais gosto, que arrepia o pescoço. Babei vendo você fazer aquele café nem doce, nem muito amargo e preparando umas torradas caseiras com orégano dourado.
Eu fixei meu olhar em cada movimento seu assimilando todos em um filme antigo que passava na minha cabeça. Um filme nosso, dos nossos dias, dos nossos momentos cheios de notas musicais.
Lembrei daquele dia em que você desceu correndo na farmácia perguntando sobre remédio de dor de ouvido, colocando até uma trilha sonora no carro pra acomodar minha dor e beijando minha orelha só para dor passar. Lembrei do dia em que você me trouxe bombom e me convidou pra ver a lua lá de cima, perto das estrelas. Ouvi nossas risadas bêbadas de vinho, aquele que deixou sua boca roxa, e que a cada risada sua eu te machucava de tanto morder. Senti seu moletom enorme me aquecendo, com nosso rock no fone de ouvido gravando nossos pensamentos iguais.
Percebi que gosto dos seus dedos macios encaixando nos meus. Me tocando pesado e ao mesmo tempo eu nem sentindo. Entre mil abraços quentes, tortos e aconchegantes que você me deu eu não mudaria nenhum. Nem um segundo a mais.
Talvez você tenha me olhado de novo daquele jeito, timído, com vergonha dos meus olhos brilharem tanto enquanto você morre de medo de encarar uma coisa que pode te levar para outro lugar.


C.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pleno e breve, como aquelas cinzas de cigarro que nunca chegaram a cair sobre o lençol branco.