quarta-feira, 30 de maio de 2007

contrapé modelo bem forte

converso comigo antes que me esqueça. acordo de manhã e fico passando cremes e cremes e loções e loções e pastas e pastas. olho isso aqui, olho aquilo acolá. me reconheco no espelho que me faz gêmea. olho meu seio e levanto-os com as mãos sonhando uma plástica. olho de costas e quem sabe uma lipo. aqui dentro sei que não vou fazer, não vou fazer. quero acreditar que cada idade tem sua beleza e que eu posso doar tal dinheiro para um elefante orfão em Bombaim e isso sim é coisa bacana. e, poxa vida, envelhecer não pode ser tão ruim assim. o joelho continua sendo seu, o seio continua sendo seu e as rugas passam a ser suas. o joelho continua sendo eu, o seio continua sendo eu e as rugas passam a ser eu. o corpo não é meu, é eu, sou eu. se você tem um pai ou mãe médico é só ir até a estante e procurar um livro de anatomia. agora me diz, me diz, me diz que quero saber: onde está a mente? você pode me dizer com exata precisão onde está o encéfalo, a caixa encefálica, o crânio, o cerebelo, mas não pode me dizer não onde diabos a mente se esconde. e os sentimentos o que são? são meus, são eu, sou eu. e como ir ao hospital e fazer o eu seio comer silicone até quase vomitar? como ir na clínica e deixar que tirem um pedaço de você, do seu eu nádegas? o engraçado é saber que vou te encontrar daqui 50 anos e ainda vou saber que é você, que é você. que o olho é você, que sua mente é você, que seu sentimento é você. talvez não lembre seu nome, mas nunca esquecerei um traço. uma pessoa com rosto e sem nome.

-pois é, é assim que é...

estávamos discutindo no clube da esquina. algo sobre a existência e algum sentido, algo sobre o caminho e algumas flechas, algo sobre como me sinto amputada de alguma percepção. algo que me falta e que me toca lá dentro, lá dentro. você pode dar 6 palitos para alguém e pedir que com eles construa 4 triângulos equiláteros. a solução consta em algo 3D. mas não, estamos presos só no aqui, no agora. e se você não existe aqui e agora, talvez você não exista além da minha mente. você não está aqui e nem agora. o que existe é só o aqui e agora, não? e quem pode dizer que sonhos não são aqui e agora? ou talvez lá e ontem? que quando eu sonho, talvez você também sonhe. e sou sonho, você é sonho e quem sabe nos encontramos e jogamos aquela sinuca com a alma ou seja lá como for. né? talvez queira me apegar nisso porque você ai, tãããão longe... quero acreditar que esses malditos filmes fantasmas que não me descansam têm a ver com algo real. afinal, se saiu de mim, é eu. meu sonho sou eu. quero muito tanto um bocado saber se sonhou, se ainda sonha. saber se também esteve lá naquela rua, olhando a sombra dos galhos no asfalto, aquela que certa vez comentamos gemeamente. saber se se estivesse aqui na região, iria gostar da conversa de ontem como gostei, se iria pegar mototáxi quantas vezes fosse necessário e se iria ajeitar minhas mantas na mochila enquanto eu chorava bobeiras. se ia olhar nos meus olhos e ver poesia, como sempre grito e você não escuta. saber se daqui 50 ou 5 anos, quando tudo reacontecer, se você vai me dizer seu nome e se vai perguntar o meu.

e você nem imagina, mas me inscrevo em todas promoções possíveis para ganhar uma viagem para ver algum pop show pela américa. e juro que toda noite torco para ter sorte suficiente.

F.

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